
Em detalhe o empresário Alessandro do Nascimento
A Polícia Civil de Mato Grosso investiga um suposto esquema de desvio de dinheiro público envolvendo emendas parlamentares destinadas à compra de kits agrícolas, com indícios de crime eleitoral e sobrepreço. Segundo as apurações, 14 deputados estaduais, o prefeito de Rondonópolis e um secretário de Estado foram citados na operação batizada de Suserano, que identificou prejuízo estimado de R$ 28 milhões aos cofres públicos.
Deflagrada em setembro de 2024 pela Delegacia de Combate à Corrupção (Deccor), a operação revelou que recursos de emendas foram repassados à ONG Instituto de Natureza e Turismo (Pronatur), responsável pela aquisição de kits contendo roçadeiras, motocultivadores, adubadeiras e perfuradores de solo, com um sobrepreço de R$ 10,2 milhões.
De acordo com documento obtido pelo UOL, os parlamentares envolvidos são Eduardo Botelho (União), então presidente da Assembleia Legislativa, Juca do Guaraná (MDB), Cláudio Ferreira (PL) — atual prefeito de Rondonópolis —, Doutor João José (MDB), Alan Kardec (PSB) — atual secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação —, Gilberto Cattani (PL), Fábio Tardin (PSB), Júlio Campos (União), Diego Guimarães (Republicanos), Faissal Calil (PL), Ondanir Bortolini, o Nininho (PSD), Dr. Eugênio (PSB), Wilson Santos (PSD), Thiago Silva (MDB), Dilmar Dal Bosco (União) e Carlos Avalone (PSDB).
O empresário Alessandro do Nascimento é apontado como beneficiário do esquema, atuando como sócio oculto de empresas que receberam recursos das emendas. Segundo as investigações, Nascimento também estaria envolvido na destinação de recursos para a Associação Atlética e Cultural Nacional, presidida por ele, que recebeu mais de R$ 1 milhão de emendas para o projeto “Craque Cidadão”.
A Polícia Civil afirma ainda que Nascimento teria tentado ocultar provas, entregando a um casal de amigos uma caixa com anotações antes do início da operação. No material apreendido, há registros manuscritos com nomes de deputados e valores, como “500k Nininho” e “1m Botelho”, além de menções a materiais esportivos.
Outra frente da apuração aponta que deputados utilizaram as emendas para abastecer regiões estratégicas em períodos eleitorais ou onde tinham aliados e parentes concorrendo, configurando possível crime eleitoral.
As investigações também ligaram empresas como a Tupã Comércio e Representações e a Tubarão Sports — esta última, segundo a polícia, ligada a Nascimento — ao fornecimento irregular dos kits. Assessores de Eduardo Botelho, segundo o inquérito, teriam inclusive assinado como destinatários dos equipamentos.
Todos os citados negaram participação em irregularidades. Em nota, Eduardo Botelho afirmou nunca ter participado de entregas durante o período eleitoral. Cláudio Ferreira declarou que todas as suas emendas foram destinadas legalmente, para atender aos interesses da população. Já Carlos Avalone e Diego Guimarães garantiram que não participaram de entregas ou indicações de beneficiários.
Diante da complexidade e possível envolvimento de recursos federais e lavagem de dinheiro internacional — Nascimento planejava adquirir imóveis nos Estados Unidos —, a Polícia Civil encaminhou o caso à Polícia Federal.
A investigação segue em andamento e poderá desdobrar-se também na esfera eleitoral e no Ministério Público.