
Uma investigação do Ministério Público Federal (MPF), no âmbito da Operação Libertatis, revelou a atuação de um grupo criminoso que produzia cigarros falsificados e utilizava mão de obra escrava no Rio de Janeiro. Segundo o órgão, apenas uma das empresas de fachada ligadas à quadrilha movimentou cerca de R$ 70 milhões em um período de apenas 10 meses, durante o ano de 2020.
De acordo com a denúncia, a movimentação financeira se deu tanto por contas bancárias quanto por meio de transações em dinheiro vivo. O esquema, segundo os investigadores, funcionava de forma estruturada e organizada em diversos núcleos operacionais.
As empresas de fachada tinham a função de mascarar o envolvimento dos integrantes, emitindo notas fiscais frias e atuando no braço responsável pela lavagem de dinheiro. O MPF classifica o grupo como uma organização armada e de perfil transnacional, uma vez que parte da produção era destinada ao exterior.
A investigação é conduzida pela Unidade Nacional de Enfrentamento ao Tráfico Internacional de Pessoas e ao Contrabando de Migrantes (UNTC) e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPF. O inquérito teve início após denúncias sobre o uso de mão de obra escrava em fábricas clandestinas de cigarros.
As fábricas estavam localizadas em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e em Paty do Alferes, na Região Serrana do Rio.
Réus e crimes investigados
A Justiça Federal aceitou a denúncia do MPF contra 36 investigados, que agora se tornam réus. Entre eles está o bicheiro Adilsinho, que segue foragido. Em março deste ano, a Polícia Federal prendeu o seu principal assessor, Luis Verdini, apontado como gerente administrativo da principal empresa de fachada envolvida no esquema.
Os denunciados vão responder por uma extensa lista de crimes: organização criminosa, tráfico de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, contrabando, falsificação de documentos, uso de substâncias nocivas à saúde pública, crimes contra as relações de consumo, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.
Trabalho escravo e tráfico de pessoas
As investigações apontam que o grupo se dividia em núcleos: líderes da organização, responsáveis pela lavagem de dinheiro, gerentes das fábricas, fornecedores, comerciantes e um traficante de pessoas dedicado a aliciar trabalhadores no Paraguai.
Durante as diligências, os investigadores encontraram 49 trabalhadores paraguaios em situação degradante, caracterizada como trabalho escravo. As vítimas foram atraídas ao Brasil por falsas promessas de emprego e submetidas a jornadas exaustivas, além de sofrerem restrição de liberdade.
Segundo o MPF, agentes públicos também estão envolvidos no esquema, atuando para garantir a segurança privada dos criminosos e facilitar o funcionamento das fábricas clandestinas.