
Enquanto o voluntariado cresce no Brasil, uma ONG em Cuiabá transforma solidariedade em ação concreta: o Núcleo Quero Viver acolhe mulheres que enfrentam uma gravidez inesperada e as orienta, inclusive, sobre alternativas seguras como a entrega legal de bebês para adoção.
Voluntariado em alta: 7 milhões de brasileiros se dedicam a causas sociais
Segundo o Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial, o Brasil atingiu em 2022 a marca de 7 milhões de voluntários, conforme dados da PNAD Contínua. Um crescimento de mais de 600 mil pessoas em relação a 2019, refletindo uma mobilização nacional em torno de causas sociais.
Em Mato Grosso, essa energia solidária se traduz no trabalho do Núcleo Quero Viver, uma ONG criada em 2018 por um grupo de amigos que decidiu “salvar vidas de bebês, desde o ventre materno”. Em 2020, o projeto se formalizou como a Associação de Amigos em Defesa de uma Vida Abundante e passou a integrar a rede internacional Brazil 4 Life, com capacitação e mentoria.
“Você não está sozinha” — apoio integral à gestante em crise
Durante participação no programa Show da Manhã com Priscila Ribeiro, as representantes do núcleo, Áurea Barros e Mara Evangelista, explicaram o trabalho da ONG e abordaram o tema da entrega legal como um direito garantido à gestante.
Áurea explicou que o procedimento é uma alternativa legal, segura e sigilosa, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, para casos em que a mulher não se sente capaz de criar a criança.
“A entrega legal nada mais é que um direito que a mulher tem, por inúmeros motivos, de não querer ter aquela criança. Ela pode fazer essa entrega de forma segura. Vai até o Judiciário, uma delegacia ou até mesmo à AMPARA, nossa parceira. Toda a gestação é acompanhada por uma equipe multidisciplinar, com cuidado e sigilo absoluto. Ninguém fica sabendo. Assim que a criança nasce, ela é entregue à Justiça, de forma protegida”, explicou Áurea.
O núcleo, em parceria com instituições como a AMPARA (Associação Mato-grossense de Apoio à Adoção), realiza esse acompanhamento desde o início da gravidez, garantindo assistência emocional, psicológica, material e jurídica.
Gravidez silenciosa: mulheres invisíveis e o risco do abandono
A presidente do Núcleo, Mara Evangelista, destacou o drama silencioso vivido por mulheres em gravidez não planejada. Segundo ela, o isolamento e o medo fazem com que muitas passem por esse processo sem apoio, inclusive sem que a própria família saiba.
“A mulher que está passando por uma gravidez indesejada, ela não sai no oceano. Ela sofre calada. Muitas vezes, até a própria família não tem conhecimento disso. O desespero leva essa mulher a colocar o filho na porta de outra casa. A gente vai atrás dessas mulheres porque não sabemos onde elas estão, mas sabemos que estão sofrendo”, afirmou Mara.
Ela comparou com outras frentes de trabalho voluntário, como no caso de usuários de drogas, cuja localização é mais conhecida. “Essas mulheres, ao contrário, se escondem”, disse.
Uma rede de apoio que salva gerações
Com o lema “Ser bênção na vida de uma mãe e de um bebê ainda no ventre”, o Núcleo Quero Viver atua com atendimentos semanais, plantões de escuta, reuniões de oração, e atividades de arrecadação como leilões on-line. A ONG já integrou o Conselho Municipal da Mulher e tem parceria ativa com o Banco Sicredi, que repassa recursos por meio do fundo social.
O Núcleo também conseguiu autorização da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana para veicular cartazes nos ônibus da capital, informando sobre os direitos da gestante e alternativas como a entrega legal.
O propósito é claro:
“Nosso objetivo é proporcionar à mulher grávida um futuro sem culpa e sem traumas, e garantir o direito à vida do ser humano ainda no ventre materno”, define a missão institucional.
Seis anos de impacto: vidas e histórias reescritas
Completando seis anos em 2026, o Núcleo Quero Viver reafirma que não salva apenas crianças — mas linhagens inteiras.
“A gente não salva só uma vida. A gente salva gerações que se perderiam”, resume Mara Evangelista.
De gestos pequenos como a escuta atenta, até ações mais complexas como articulações legais e acompanhamento contínuo, o trabalho da ONG é um lembrete de que o voluntariado vai além do tempo doado — ele pode ser a ponte entre o desespero e a dignidade.