
O Senado Federal vai arcar com os custos da viagem de seis senadores a Lisboa nesta semana para participar do polêmico Fórum jurídico promovido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Todos os parlamentares solicitaram ir ao exterior em missão oficial e com despesas pagas pelos cofres públicos.
O evento, organizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), do qual Gilmar Mendes é sócio, acontece anualmente na capital portuguesa e reúne políticos, empresários, advogados e autoridades do Judiciário — numa programação que vai além dos debates acadêmicos, envolvendo festas, almoços e jantares de alto padrão.
Os senadores Irajá (PSD-TO), Eduardo Gomes (PL-TO), Daniela Ribeiro (PP-PB), Márcio Bittar (União-AC), Angelo Coronel (PSD-BA) e Laércio Oliveira (PP-SE) foram os seis que oficializaram a participação e pediram que todos os custos fossem bancados pelo Senado. Após o retorno, eles têm até 90 dias para apresentar comprovantes de despesas e solicitar reembolso.
Além deles, os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também devem participar do evento — mas ainda não foi confirmado se a viagem será com ou sem ônus. Já o senador Davi Alcolumbre (União-AP), anunciado como palestrante, cancelou sua ida após o desgaste com o governo Lula por conta da derrubada do decreto sobre o IOF.
A polêmica em torno do Fórum aumentou após o apelido “Gilmarpalooza” viralizar nas redes. O nome faz referência à centralidade do ministro do STF no evento, que, apesar de se apresentar como espaço de reflexão jurídica e institucional, costuma atrair lobistas, autoridades e empresários em eventos paralelos com pouca transparência e forte potencial de articulações de bastidores.
Entre os bastidores luxuosos do encontro, destacam-se jantares exclusivos e festas em locais como o restaurante SUD Lisboa — onde, no ano passado, o banco BTG organizou um happy hour para integrantes do Judiciário e Legislativo, atraindo a atenção de advogados e grupos de interesse.
No caso da Câmara dos Deputados, o acesso à lista de parlamentares que pediram para participar do evento — seja em missão oficial ou particular — não foi disponibilizado, apesar de o Senado oferecer esses dados publicamente. A Câmara afirmou que não irá divulgar quem custeará os deslocamentos dos deputados, alegando questões administrativas.
Até o momento, doze deputados, incluindo o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), já foram confirmados como palestrantes no Fórum.
A edição de 2024 ocorre num momento em que aumentam as críticas à mistura entre poder público e interesses privados em eventos internacionais — especialmente quando envolvem uso de recursos públicos sem critérios transparentes de seleção ou contrapartida concreta à sociedade.