
A novela mal começou e já gerou uma onda de críticas. Desde a estreia de “Êta, Mundo Melhor”, no último dia 30 de junho, organizações que representam os povos ciganos no Brasil têm denunciado a Rede Globo por racismo étnico-cultural. O motivo: a retratação da personagem Carmem, interpretada por Cristiane Amorim, como uma mulher cigana que vende um bebê a uma golpista.
Logo no primeiro capítulo, a personagem convence um casal a lhe entregar o filho de Candinho (Sérgio Guizé), desaparecido. Na sequência, negocia a criança com Zulma (Heloísa Périssé), que comanda um falso orfanato, e segue viagem com o dinheiro obtido. Para representantes da comunidade cigana, a cena perpetua estigmas violentos e ultrapassados.
Em nota conjunta divulgada nas redes sociais, o Instituto Cigano do Brasil (ICB), a Urban Nômades Brasil, a International Romani Union Brasil (IRU) e a Associação Mayle Sara Kali Brasil (AMSK) acusaram a emissora de reforçar um dos estereótipos mais cruéis já dirigidos a esse povo: o da “cigana que rouba ou vende crianças”.
“Isso não é arte, é reprodução de preconceito. Anticiganismo é racismo, e a Globo precisa responder”, afirma o comunicado, que ainda reforça a responsabilidade da emissora como concessionária pública e cobra uma posição do Ministério da Igualdade Racial.
As entidades destacam que esse tipo de narrativa contribui para a marginalização histórica dos ciganos, negando suas verdadeiras identidades culturais. “Nunca roubamos crianças. Somos um povo de cultura, saberes e dignidade. Não queremos ser vilões exóticos de novelas. Queremos respeito”, diz o texto.
Ao final, as organizações pedem uma manifestação oficial do governo federal e reforçam que representações assim reforçam o racismo étnico-cultural, também conhecido como romafobia. “Está na hora de dizer: ‘Não em nosso nome’. Chega de racismo travestido de ficção. Chega de silêncio institucional.”
Até o momento, a Globo ainda não se manifestou publicamente sobre o caso.