
A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos não é apenas uma questão comercial, mas um reflexo direto da postura geopolítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo avaliação do analista político Onofre Ribeiro. Para ele, a consequência imediata pode ser devastadora para a economia brasileira, com impacto direto no setor produtivo, aumento do desemprego, falências e inadimplência.
Em entrevista, Onofre pontuou que a proposta de Lula de substituir o dólar nas transações internacionais pode ter sido o estopim para a medida do governo americano.
“Desde o início do mandato, Lula deixou claro que quer tirar o dólar do centro do comércio internacional. Isso apareceu já na primeira reunião do Mercosul, na Argentina. Essa defesa pública incomoda profundamente os interesses dos Estados Unidos, e a tarifa pode ser uma retaliação direta”, avalia o analista.
Alinhamento com adversários dos EUA e críticas a Trump
Onofre também destacou outros fatores que contribuem para o atrito diplomático: o apoio de Lula à reeleição de Joe Biden e suas declarações contrárias a Donald Trump — a quem comparou ao nazismo em nova roupagem durante a campanha presidencial americana.
Além disso, a atuação do Supremo Tribunal Federal em decisões que envolvem bloqueios de redes sociais gera desconforto entre americanos, especialmente por tocar em um valor central da cultura política dos EUA: a liberdade de expressão.
“Nos Estados Unidos, esse valor é sagrado. Está inscrito na Primeira Emenda da Constituição. Quando eles veem o Judiciário de outro país interferindo nas redes sociais, isso soa como censura e fere o que eles mais prezam”, comenta Onofre.
O analista também observa que a aproximação do Brasil com nações historicamente críticas aos EUA e à União Europeia — como China, Rússia, Irã, Venezuela e Coreia do Norte — agrava a situação diplomática. Para ele, essa escolha de alinhamento poderá cobrar um preço alto.
“O Brasil está tomando uma briga que não é sua. Assumir posições a favor do Irã, por exemplo, como na última reunião do Brics, só aumenta o desgaste com o Ocidente”, afirma.
Setor produtivo é o elo mais fraco
Para Onofre Ribeiro, há uma tentativa em curso de criar uma narrativa de que o Brasil está sendo injustiçado pelos Estados Unidos, o que pode até beneficiar a popularidade de Lula. No entanto, ele alerta que quem vai pagar a conta é o setor produtivo brasileiro.
“O impacto vai ser brutal. Os Estados Unidos são um dos maiores parceiros comerciais do Brasil. Uma queda nas exportações significa recessão, demissões em massa e inadimplência bancária”, alerta.
O analista também critica setores da elite econômica que, segundo ele, apoiaram Lula esperando estabilidade e ganhos financeiros. “Vão ter que rever seus posicionamentos. O discurso de vítima não impede a recessão nem segura o desemprego.”
E conclui: “Estamos lidando com um cenário muito mais profundo. A tarifa é só a face visível de uma disputa geopolítica em ebulição.”