
Hugo Mota, deputado federal
A Câmara dos Deputados já desembolsou R$ 807,5 mil em salários para Gabriela Batista Pagidis, de 30 anos, que figura como secretária parlamentar no gabinete do presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), mas não exerce funções compatíveis com o cargo.
Lotada no gabinete desde junho de 2017, Gabriela é fisioterapeuta em Brasília, com expediente fixo em duas clínicas particulares: às segundas e quartas no Instituto Costa Saúde, na Asa Norte, e às terças e quintas no Centro Clínico Bandeirantes, no Núcleo Bandeirante. Na última sexta-feira (12), ela foi vista na academia pela manhã e visitando o zoológico à tarde — período que deveria estar dedicada às funções públicas.
A equipe de reportagem foi pessoalmente a uma das clínicas, onde a própria Gabriela recepcionou os visitantes e deu orientações para agendamentos. Enquanto isso, no papel, ela deveria estar a serviço do Parlamento Federal.
Nomeações e remuneração incompatíveis
A investigação mostra que Gabriela já ocupou cargo semelhante entre 2014 e 2016, no gabinete do então deputado Wilson Filho, atual secretário de Educação da Paraíba e aliado de Hugo Motta. Somando os períodos nos dois gabinetes, Gabriela teria recebido mais de R$ 890,5 mil em recursos públicos.
Entre 2014 e 2019, Gabriela cursou fisioterapia na UnB, em Ceilândia, um curso de tempo integral que por si só impediria o cumprimento de uma jornada administrativa como secretária parlamentar. Ela também concluiu duas pós-graduações na área da saúde durante o período em que esteve nomeada como assessora.
Mais fantasmas no gabinete
Segundo apurou o jornal Folha de S.Paulo, Gabriela não é a única funcionária fantasma vinculada ao gabinete de Hugo Motta. Outras duas mulheres também levantam suspeitas:
- Louise Lacerda, estudante de medicina em tempo integral na Paraíba, e
- Monique Magno, assistente social com cargo efetivo na prefeitura de João Pessoa.
Ambas constam como secretárias parlamentares e, assim como Gabriela, acumulam funções incompatíveis com a jornada exigida pela Câmara dos Deputados.
O que diz Hugo Motta
Em nota, o gabinete de Hugo Motta alegou que “preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários”, inclusive daqueles dispensados de ponto por atuarem remotamente, como permitido pelas regras da Casa Legislativa.
A Câmara respondeu a um pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI) afirmando que não registra entradas de funcionários com crachá na portaria, que o controle de ponto é responsabilidade dos gabinetes e que o acesso à garagem exige apenas credenciamento prévio — o que dificulta a fiscalização de presença física dos servidores.
O caso levanta sérias questões sobre o uso de recursos públicos, a fiscalização interna da Câmara e os limites das regras de trabalho remoto no serviço público federal.
