
O Senado Federal impôs sigilo de 100 anos sobre eventuais registros de entrada do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, nas dependências da Casa. A decisão contraria o entendimento da Controladoria-Geral da União (CGU), que defende a divulgação dessas informações por interesse público.
A solicitação dos registros foi feita via Lei de Acesso à Informação (LAI) no dia 2 de julho. Em resposta, o Senado alegou que os dados são de “caráter pessoal”, citando dispositivos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e do decreto que regulamenta a LAI. A Casa afirmou que, por envolver pessoa identificada, as informações se submetem a regras que autorizam o sigilo por até um século.
Embora o Senado tenha recusado o acesso, a Câmara dos Deputados atendeu ao mesmo pedido, informando não haver registros de entrada do lobista desde 1º de janeiro de 2019.
O senador Weverton Rocha (PDT-MA) já reconheceu ter se encontrado com Careca do INSS em pelo menos três ocasiões em seu gabinete. O parlamentar também é apontado como responsável pela indicação de André Fidélis ao cargo de diretor de Benefícios do INSS, do qual foi afastado em 2024, após o surgimento de suspeitas de descontos ilegais em aposentadorias e pensões.
Além disso, o atual secretário-executivo do Ministério da Previdência Social, Adroaldo da Cunha Portal — ex-chefe de gabinete de Weverton — recebeu o lobista em março de 2023, em reunião fora da agenda oficial. À imprensa, Adroaldo alegou que desconhecia o interlocutor e apenas o atendeu por estar acompanhado de um representante de correspondente bancário.
A CGU defende a publicidade dos registros de entrada e saída de visitantes em órgãos públicos, com base na Lei do Conflito de Interesses. “Há interesse público na divulgação da relação de pessoas que adentraram nas dependências de órgãos públicos”, afirma o órgão de controle.
Careca do INSS é apontado como um dos principais articuladores do esquema conhecido como “Farra do INSS”, revelado pelo portal Metrópoles a partir de dezembro de 2023. Segundo as reportagens, associações de aposentados arrecadaram mais de R$ 2 bilhões em um ano, por meio de descontos indevidos nos benefícios. A série levou à abertura de investigações da Polícia Federal e da CGU, culminando na Operação Sem Desconto, que resultou na queda do então presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
O lobista teve carros de luxo apreendidos pela PF em maio deste ano, em Brasília. A denúncia da existência da frota partiu da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que possui escritório no mesmo prédio onde estavam os veículos. Mesmo sob investigação, o Careca do INSS abriu uma nova empresa de call center para operar com crédito consignado, no mesmo endereço em que atuavam suas antigas companhias do setor.
Recentemente, três entidades envolvidas no escândalo acionaram o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) contra o lobista, tentando reaver cerca de R$ 647,4 mil devido à desfiliação de associados prejudicados.