
Durante visita à periferia de Osasco (SP) nesta sexta-feira (25), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma crítica direta ao comportamento de parte do eleitorado das classes populares, que tende a votar em candidatos ricos sob o argumento de que “quem já é rico não precisa roubar”.
“O pobre fala assim: ‘eu vou votar no prefeito que é rico porque ele não vai roubar porque já é rico’. Ora, ele só é rico porque já roubou, porra”, disse Lula, em tom informal e provocativo, arrancando reações divididas do público.
O discurso, no entanto, ganhou repercussão também pelo paradoxo que levanta: o próprio Lula, que começou sua trajetória política como líder sindical e representante da classe trabalhadora, hoje figura entre os políticos com patrimônio milionário. Nas eleições de 2022, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) bens no valor de R$ 7,4 milhões — um contraste com a imagem do operário do ABC que o consagrou nos anos 1980.
A fala abre espaço para um debate mais profundo: é possível manter coerência ideológica com a ascensão financeira? A crítica de Lula não mira apenas o patrimônio, mas sim o processo pelo qual muitos políticos enriquecem à custa da máquina pública — o que, segundo ele, deveria gerar mais desconfiança do que segurança.
Entretanto, a generalização também levanta questionamentos: nem todo político rico roubou, assim como nem todo político pobre é honesto. Além disso, o discurso pode soar contraditório ao vir de alguém que hoje pertence à elite política e econômica do país, ainda que por caminhos diferentes.
Se a intenção foi provocar reflexão sobre corrupção estrutural e desigualdade de oportunidades, faltou ao presidente ajustar o tom — ou lembrar que, muitas vezes, o exemplo mais poderoso vem da própria biografia.