
Fotos: Rafael Medelima
O embaixador André Corrêa do Lago, escolhido para presidir a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), criticou duramente a rede hoteleira de Belém, no Pará, por cobrar preços considerados abusivos durante o evento, que acontecerá em novembro deste ano. Em entrevista a correspondentes estrangeiros, ele classificou os aumentos como “extorsivos” e revelou que há um esforço coordenado pela Casa Civil para convencer os hotéis a reduzirem as tarifas.
Segundo Lago, os valores cobrados na capital paraense superam em muito o que já foi visto em outras cidades-sede. “Na maioria das cidades onde as COPs aconteceram, os hotéis passaram a pedir o dobro ou o triplo do valor. No caso de Belém, os hotéis estão pedindo mais de 10 vezes os valores normais”, denunciou. O embaixador alertou que a situação tem gerado revolta, principalmente entre países de menor desenvolvimento, que consideram inviável a participação por conta dos custos.
O clima de insatisfação se intensificou após um representante de países africanos declarar à agência Reuters que algumas delegações estariam pressionando o Brasil a transferir a sede da COP30 para outro local. “Talvez os hotéis não estejam se dando conta da crise que estão provocando”, lamentou o embaixador.
Lago também reforçou a importância estratégica do evento, que marca a publicação das novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) com metas até 2035 e que avaliará o avanço global em relação ao limite de 1,5 °C de aumento na temperatura média do planeta.
Ele destacou que a conferência brasileira será focada na implementação de soluções já existentes e no fortalecimento de um modelo econômico de baixo carbono. Uma das iniciativas que devem ter espaço na Zona Sul da COP é a Iniciativa Climática para Óleo e Gás (OGCI), que reúne grandes empresas do setor energético.
O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, também participou da entrevista e defendeu o engajamento da indústria na transição energética. “Não queremos estar fora dos debates”, afirmou. Para ele, a transição não pode ampliar desigualdades nem prejudicar o acesso à energia. Ele defende que o uso dos combustíveis fósseis seja cada vez mais restrito a setores industriais estratégicos, como petroquímica e fertilizantes.
A COP30, marcada para novembro, será a primeira conferência climática da ONU sediada na Amazônia e deve reunir líderes de quase 200 países.