
Uma investigação da Polícia Federal revelou a existência de uma verdadeira “dinastia da fraude” — um esquema milionário de manipulação de concursos públicos, operado por uma família do sertão nordestino. O grupo, chefiado por um ex-policial militar, é acusado de usar tecnologia, influência e cumplicidade familiar para garantir aprovações em certames federais e estaduais, ocupando cargos estratégicos em diferentes órgãos públicos.
De acordo com a PF, o líder do esquema é Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar com uma longa ficha criminal, incluindo acusações de homicídio, roubo, peculato, uso de documento falso e abuso de autoridade. Ele teria transformado a experiência no serviço público em ferramenta para burlar o sistema de seleção e lucrar com aprovações fraudulentas.
Ao lado dele atuavam irmãos, filhos e sobrinhos — todos com funções bem definidas. Valmir Limeira de Souza, Antônio Limeira das Neves, Wanderson Gabriel de Brito Limeira (filho) e Larissa de Oliveira Neves (sobrinha) participavam diretamente das ações. Outro integrante, Ariosvaldo Lucena de Sousa Junior, policial militar no Rio Grande do Norte e dono de uma clínica odontológica em Patos (PB), é investigado por lavagem de dinheiro proveniente das fraudes.
O grupo é suspeito de fraudar concursos de alto prestígio, como o de auditor fiscal do trabalho, Polícia Federal, universidades federais e carreiras policiais em vários estados. Em 2024, Wanderlan, Valmir e Larissa foram aprovados no Concurso Nacional Unificado (CNU) para o cargo de auditor fiscal do trabalho, que tem salário inicial superior a R$ 22 mil. O caso acendeu o alerta das autoridades devido à coincidência de parentes aprovados em um mesmo certame.
O modo de operação incluía o repasse de gabaritos e o uso de pontos eletrônicos, além de estratégias de disfarce nas inscrições e manipulação de locais de prova. Em outro episódio, o filho de Wanderlan foi citado em investigação sobre o concurso da Polícia Militar da Paraíba, em que uma candidata foi flagrada com ponto eletrônico oculto no ouvido.
A estrutura familiar era o segredo do sucesso do grupo. Segundo a PF, a confiança entre os membros permitia manter sigilo absoluto sobre os métodos e movimentar dinheiro sem levantar suspeitas. Cada integrante tinha um papel definido: alguns cuidavam do recrutamento de candidatos dispostos a pagar pela aprovação, outros faziam a intermediação financeira ou repassavam respostas durante as provas.
Os investigadores estimam que o esquema movimentou valores milionários e causou prejuízos graves ao Estado, não apenas pelo dinheiro envolvido, mas também pelo risco institucional de colocar pessoas sem qualificação em cargos públicos de alta responsabilidade. As autoridades destacam que fraudes desse tipo comprometem a credibilidade dos concursos e minam a confiança da sociedade na meritocracia do serviço público.
As investigações seguem em andamento, e a Polícia Federal deve pedir a anulação das nomeações de candidatos aprovados de forma irregular. A “dinastia da fraude”, como ficou conhecida, expõe a vulnerabilidade dos sistemas de seleção e a necessidade de reforço na fiscalização e rastreabilidade das provas aplicadas em todo o país.