
O que inicialmente parecia ser um caso de labirintite revelou-se um quadro de saúde grave para Ana Júlia Pires. Aos 23 anos, em julho de 2021, a jovem começou a sentir tonturas, dores na lombar e no pescoço após retornar de uma viagem em família. “Achei que era labirintite, fiquei meio tonta, enjoada”, recorda Ana Júlia.
No dia seguinte aos primeiros sintomas, ela sofreu uma convulsão e precisou ser internada. Em 27 de julho daquele ano, recebeu o diagnóstico de trombose venosa cerebral, condição rara. Segundo os médicos, a formação de coágulos nas veias do cérebro estava associada ao uso contínuo de anticoncepcionais hormonais orais, que continham estrogênio e progesterona.
A trombose deixou sequelas significativas, como estrabismo súbito, perda de equilíbrio e diminuição da força muscular, exigindo um longo período de fisioterapia. “Um dos meus olhos desviou cerca de 45 graus. Só voltei a andar aos poucos, com a ajuda da minha mãe e do meu noivo, além da fisioterapia”, conta.
Novo sintoma e fístula liquórica
O quadro se agravou com o tempo. A trombose provocou aumento da pressão intracraniana e, em outubro de 2022, Ana Júlia passou a notar um corrimento nasal transparente persistente. “Achei que fosse gripe, porque o nariz não parava de escorrer. Após um mês, quando os sintomas da gripe melhoraram, o corrimento continuou”, relata.
Após meses de exames, a otorrinolaringologista Camila Dassi diagnosticou, em julho de 2024, que o líquido nasal indicava uma fístula liquórica transnasal. A condição foi causada pelo aumento da pressão intracraniana, que enfraqueceu estruturas do crânio.
Relação com anticoncepcionais
Ana Júlia detalhou que usou o anticoncepcional Tâmisa 20 por cerca de dois anos e, no período dos primeiros sintomas da trombose, estava usando Diane 35 há cerca de um ano e meio. Ambos contêm estrogênio, hormônio associado ao aumento do risco de trombose venosa, segundo a ginecologista Mariana Medina de Almeida Pereira.
Em maio deste ano, a arquiteta recebeu alta do último medicamento, um diurético usado para reduzir a pressão do líquor. Atualmente, Ana Júlia está completamente recuperada.