Com a globalização e o aumento da mobilidade entre países, doenças infecciosas podem se espalhar rapidamente e gerar impactos graves na saúde e na economia mundial. Para enfrentar esse desafio, uma equipe de cientistas propõe uma alternativa inovadora: uma goma de mascar feita com feijão lablab, capaz de reduzir cargas virais nos locais de transmissão.
O estudo, publicado na revista Molecular Therapy, aponta que a goma é eficaz principalmente contra vírus transmitidos pela boca, como SARS-CoV-2, herpes simplex (HSV-1 e HSV-2) e algumas cepas de influenza A (H1N1 e H3N2). O ingrediente-chave é a proteína FRIL, presente naturalmente no feijão lablab, também conhecido no Brasil como orelha-de-turco, feijão-de-pedra ou ervilha-de-pobre.
A FRIL é uma lectina, proteína capaz de se ligar a açúcares específicos na superfície dos vírus, impedindo que eles se conectem a células humanas e provoquem infecções. A ideia de transformar o feijão em goma de mascar surgiu em 2021, durante a pandemia de Covid-19, quando pesquisadores da Universidade da Pensilvânia buscavam uma solução acessível para reduzir a transmissão do coronavírus.
Testes laboratoriais mostraram que apenas 40 mg da proteína, em comprimidos de dois gramas, reduziram cargas virais em mais de 95%, sem perder eficácia mesmo após mastigação e contato com a saliva. O produto segue as especificações da FDA e já passou por simulações que reproduzem a mastigação humana, sem sinais de toxicidade.
Atualmente, a equipe estuda a aplicação da FRIL para combater a gripe aviária, que recentemente afetou 54 milhões de aves na América do Norte e causou infecções humanas pelo vírus H5N1. A ideia é adicionar o pó do feijão à ração de aves, reduzindo a propagação do vírus em granjas e diminuindo riscos de transmissão para humanos.
“Uma proteína antiviral de amplo espectro presente em um produto alimentício natural para neutralizar não apenas os vírus da gripe humana, mas também a gripe aviária é uma inovação oportuna para prevenir sua infecção e transmissão”, afirma Henry Daniell, líder do estudo.
Se comprovada em testes clínicos, a goma de feijão lablab pode se tornar uma ferramenta sustentável, de baixo custo e de fácil acesso para prevenir surtos virais e reduzir dependência de antivirais tradicionais.
