Os intensos conflitos entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) têm transformado Rio Claro, no interior de São Paulo, em um verdadeiro campo de guerra. A disputa por território e hegemonia no tráfico de drogas elevou o número de homicídios dolosos no município, que já soma 24 casos em 2025, sendo oito execuções. O aumento representa 26,3% em relação ao mesmo período do ano passado.
Com pouco mais de 210 mil habitantes, Rio Claro apresenta uma média de 11,92 homicídios a cada 100 mil pessoas — quase três vezes superior à média estadual, de 4,09. Embora o PCC mantenha domínio consolidado sobre o tráfico no estado, a facção não tem histórico de atuação direta na cidade, onde ainda prevaleciam grupos locais, como o “Bonde do Magrelo”.
O avanço do Comando Vermelho, presente em 24 dos 27 estados brasileiros, acendeu o alerta das autoridades. A localização de Rio Claro, com fácil acesso às rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Washington Luís, torna o município um ponto estratégico para o escoamento de drogas e armas.
Em entrevista ao g1, o delegado seccional de Rio Claro, Paulo César Junqueira Hadich, reconheceu a gravidade da situação. “Nós temos as motivações comuns, mas há também homicídios ligados a disputas de espaço e poder entre grupos criminosos”, afirmou. Segundo ele, a investigação é dificultada pela ausência de testemunhas e pelo fato de muitos executores não serem da região. “Nosso trabalho é técnico e minucioso para transformar informações em provas sólidas”, completou.
Moradores relatam um clima crescente de insegurança. “A violência aumentou consideravelmente. Dependendo do horário e do local, é preciso ficar muito atento”, disse um morador que preferiu não se identificar. Outra jovem acrescentou: “Sempre tem uma notícia de assassinato. É estranho, né? Porque a cidade é pequena.”
Um relatório de inteligência policial apontou que o CV tenta consolidar domínio na cidade sob o comando de Leonardo Felipe Panono Scupin Calixto, o “Bode”, e de seu braço direito, Edvaldo Luís Lopes Júnior, o “Grão”. Ambos teriam sido “decretados” pelo PCC, o que intensificou a sequência de execuções.

Para o delegado Hadich, o cenário em Rio Claro reflete uma tendência nacional. “A cidade sofre com os mesmos problemas das grandes e médias cidades, especialmente ligados ao tráfico de drogas”, afirmou. Enquanto a disputa pelo controle do território se acirra, a população segue convivendo com o medo e a incerteza de até onde vai a guerra entre as facções.
