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O aguardado encontro entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump ainda não tem data definida, mas o governo brasileiro já delineia sua estratégia de aproximação com Washington. De acordo com fontes diplomáticas, Lula estuda recuar na proposta de regulação das big techs como gesto político para facilitar o diálogo com o presidente norte-americano.
Assessores presidenciais confirmam que o tema vem sendo tratado como ponto de “flexibilidade estratégica” dentro do Planalto. O chanceler Mauro Vieira e o assessor especial Celso Amorim teriam recomendado que o presidente considere engavetar ou até mesmo descartar o projeto de lei que regula o funcionamento das plataformas digitais. A medida, vista como sinal de boa vontade, poderia abrir caminho para a redução de até 50% nas tarifas aplicadas a produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.
Segundo auxiliares, o gesto seria apresentado como consequência natural do recente acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o Marco Civil da Internet — especialmente o artigo 21, que trata da retirada de conteúdos ilícitos. Para o governo, a decisão da Corte já cobre parte das lacunas que o projeto pretendia preencher, permitindo a Lula arquivar a proposta sem que isso represente uma derrota política.
“Lula quer demonstrar pragmatismo. Ele entende que pode recuar em pontos simbólicos para destravar acordos econômicos mais amplos”, avaliou um diplomata próximo das negociações.
A movimentação é acompanhada de perto por Washington. O governo Trump, que voltou a pressionar o Brasil em temas ligados à liberdade de expressão e regulação digital, vê com bons olhos a possibilidade de o Congresso brasileiro interromper a tramitação do texto. Fontes norte-americanas afirmam que o Departamento de Estado monitora “com lupa” tanto as decisões do STF quanto as ações do Planalto nessa área.
Terras raras e equilíbrio geopolítico
Além da pauta tecnológica, Lula também estuda uma estratégia de cooperação controlada com a China no setor de terras raras — minerais estratégicos para a indústria de semicondutores e equipamentos de alta tecnologia. A proposta é permitir a participação limitada de empresas chinesas, mantendo o controle majoritário brasileiro sobre as reservas e o processo produtivo.
A iniciativa busca reforçar o equilíbrio geopolítico, atraindo investimentos de Pequim sem comprometer o espaço de negociação com Washington.
“Lula quer mostrar que o Brasil é parceiro de ambos, não satélite de nenhum”, afirmou uma fonte da diplomacia brasileira.
Segundo interlocutores do governo, a expectativa é que a reunião entre Lula e Trump ocorra ainda neste ano.
