O ex-presidente da Unimed, Rubens Carlos de Oliveira Junior
Como um prejuízo superior a R$ 400 milhões pode se transformar, no papel, em um superávit de pouco mais de R$ 370 mil? A resposta está no laudo contábil-financeiro concluído pela Polícia Federal, que detalha um dos maiores esquemas de manipulação de dados já atribuídos à Unimed Cuiabá.
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A Polícia Federal concluiu o laudo pericial que analisou o balanço contábil de 2022 da Unimed Cuiabá, apresentado pela antiga gestão do ex-presidente Rubens Carlos de Oliveira Junior. O documento, finalizado em 29 de outubro de 2025 e tornado público apenas na última quarta-feira (19), confirma a existência de distorções que alteraram completamente o resultado financeiro da cooperativa.
De acordo com a perícia, as manobras contábeis somam R$ 401.106.686,62. Entre elas estão estornos de receitas inexistentes, aumento irregular de provisões técnicas com base em laudo atuarial, readequação de eventos para outras competências, aumento de provisão para perdas sobre créditos, baixa de estoques de medicamentos inexistentes ou vencidos e reclassificação indevida de adiantamentos a prestadores.
O impacto dessas intervenções foi suficiente para transformar um prejuízo que ultrapassava R$ 400 milhões em um superávit de R$ 371,8 mil. “Todas foram feitas para adequar o balanço patrimonial de 31/12/2022 às normas e princípios contábeis vigentes”, aponta o documento, que evidencia que a narrativa apresentada à época não correspondia à realidade financeira da cooperativa.
Rubens, assim como os ex-gestores Suzana Aparecida Rodrigues dos Santos Palma, Jaqueline Proença Larrea, Eroaldo de Oliveira, Ana Paula Parizotto e Tatiana Gracielle Bassan Leite, é réu na ação penal que apura a responsabilidade pela fraude. A investigação é conduzida no âmbito da Operação Bilanz, deflagrada em outubro do ano passado.
O laudo de 149 páginas, assinado pelo perito criminal federal Domingos Gomes Figueira, descreve ainda práticas como o lançamento de receitas fictícias — incluindo um contrato inexistente de R$ 50 milhões com a DASA — e notas fiscais sem respaldo econômico. A perícia também encontrou indícios de “pedalada” de custos, com alteração de datas no sistema para empurrar despesas de 2022 para 2023 e mascarar mais de R$ 120 milhões.
Pagamentos a médicos e prestadores também teriam sido cancelados de forma aleatória para melhorar artificialmente o desempenho financeiro da cooperativa. Segundo o documento, as práticas não foram acidentais ou pontuais. A PF afirma que havia uma disputa política intensa, e que a maquiagem contábil tinha objetivo claro: garantir a reeleição do grupo de Rubens no comando da Unimed Cuiabá.
“A apresentação de um balanço com resultado positivo era imprescindível para a reeleição do grupo de Rubens Carlos de Oliveira Junior para mais um mandato”, aponta a perícia.
Os investigados respondem por crimes como organização criminosa, falsidade ideológica, estelionato e outras infrações correlatas. A apuração teve início após denúncia da atual diretoria da Unimed Cuiabá, presidida pelo médico Carlos Bouret, que já suspeitava da existência de um balanço “maquiado”.
À época, o documento apresentado pela antiga gestão indicava um saldo positivo de R$ 370 mil, enquanto a realidade agora confirmada pela perícia era de um rombo superior a R$ 400 milhões.
