A publicitária Danielle Miranda Fonteles, conhecida por ter coordenado a campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010 e por ter delatado supostos esquemas do PT durante a Lava Jato, volta ao noticiário envolvida em um novo núcleo de controvérsias. Documentos e mensagens revelam sua atuação como representante do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, em um empreendimento de cannabis avaliado em milhões de euros em Portugal.
Mensagens de WhatsApp obtidas pelo Metrópoles mostram que Danielle acompanhava diretamente o projeto Sync Nature, instalado em Aveiro e avaliado em 3 milhões de euros, cerca de R$ 18 milhões. Em 17 de outubro de 2024, ela criou um grupo para monitorar o andamento da iniciativa:
“Pessoal, criei esse grupo para acompanharmos passo a passo o trabalho de avaliação do Projeto Cannabis em Aveiro (Sync Nature).”
O grupo reunia Claudia Augusta dos Santos, cunhada de Careca do INSS, e Vitória Bragança Sernégio, sobrinha do lobista, indicando a integração da publicitária ao núcleo familiar e operacional que tocava o negócio.
A relação entre Danielle e Careca, porém, vai além do projeto em Portugal. Relatórios do Coaf apontam que ela recebeu R$ 5 milhões do lobista entre novembro de 2023 e março de 2025. Os valores, inicialmente divulgados pela revista Veja e confirmados posteriormente, foram atribuídos por Danielle à suposta venda de uma casa de praia em Trancoso, na Bahia. No entanto, documentos obtidos pela imprensa mostram que o imóvel nunca foi transferido ao comprador, revelando que a operação não foi concluída.
Mesmo assim, a publicitária afirma que tudo estaria documentado e que impostos foram recolhidos. As explicações, porém, abriram uma série de questionamentos: por que houve pagamento integral por uma compra que não se concretizou? Por que Danielle recebeu valores tão altos sem a conclusão da transação? E como esses repasses se conectam com sua atuação no projeto de cannabis?
Até o momento, nenhuma dessas perguntas foi esclarecida. Confrontada pela reportagem após a revelação das mensagens, ela bloqueou o contato do Metrópoles.
Outro ponto que chama atenção é o fato de Danielle jamais ter informado, em notas anteriores, que atuava como representante de Careca do INSS em Portugal. A omissão contrasta com a versão apresentada por ela em uma ação de danos morais, na qual afirma manter com o lobista uma relação exclusivamente profissional e anterior à suposta venda do imóvel. A participação ativa nas conversas do projeto e a inclusão de familiares de Careca no grupo, porém, sugerem um vínculo mais amplo do que o admitido.
A trajetória de Danielle Fonteles tem raízes profundas no PT. Ela comandou a comunicação da campanha de Dilma Rousseff em 2010 e anos depois foi citada em colaborações envolvendo publicitários ligados ao partido. Posteriormente, tornou-se delatora de práticas atribuídas a integrantes da legenda para desviar recursos ou financiar campanhas.
Agora, mais de uma década depois, seu nome ressurge atrelado a transações de alto valor, negócios pouco transparentes e relações com operadores já mencionados em investigações. A ligação com Careca do INSS — personagem associado a fraudes previdenciárias e articulações políticas informais — reacende um debate antigo sobre a zona cinzenta entre publicidade política, lobismo e empreendimentos privados que orbitam figuras com histórico de investigações.
