José Antônio Ribeiro Pinto, filho de João Antônio Pinto, de 87 anos, assassinado durante uma abordagem policial em fevereiro de 2024, falou à imprensa nesta terça-feira (2) na Câmara Municipal de Cuiabá. Ele contestou a decisão da Prefeitura de desapropriar a área rural de 270 hectares pertencente à família, atualmente ocupada por cerca de 1.170 famílias. Segundo ele, a medida foi comunicada de forma unilateral e ignora anos de tentativas de acordo.
Invasão, conflitos e morte
A fazenda da família Pinto é registrada desde 1967 e historicamente utilizada para pecuária. Parte das atividades foi comprometida após o início das obras da Avenida Contorno Leste. Em 28 de fevereiro de 2023, o local passou a ser alvo de ocupações, acompanhadas por denúncias de desmatamento, uso de máquinas irregulares e crimes ambientais constatados por imagens de satélite e por uma multa aplicada pela Sema-MT.
A família ingressou com ações judiciais e recebeu liminares favoráveis, mas o processo se prolongou por mais de dois anos. Em 23 de fevereiro de 2024, o proprietário João Antônio Pinto foi morto com um tiro disparado por um investigador da Polícia Civil durante uma abordagem. O agente foi afastado e é investigado pela Corregedoria.
José Antônio evitou relacionar a morte do pai diretamente às invasões, mas ressaltou a dor deixada pelo episódio.
“Meu pai perdeu a vida de forma covarde ali, no aniversário da minha mãe. Não é questão de dinheiro, é sentimental”, disse.
Reação ao anúncio da desapropriação
O prefeito Abílio Brunini (PL) anunciou em 29 de novembro de 2025 que enviaria à Câmara um pedido de desapropriação para regularizar a área ocupada e evitar despejos. O protocolo ocorreu no dia 1º de dezembro, incluindo solicitação de indenização à família e implantação de serviços essenciais no local, como água e energia.
José Antônio afirma que não houve diálogo prévio.
“Não houve conversa, só comunicação compulsória. Não temos escolha; é o poder público”, declarou.
Ele também ressaltou que, ao longo dos últimos anos, a família buscou soluções negociadas com a Prefeitura, o Ministério Público e o Judiciário. Em 2024, chegaram a doar 5,7 hectares em um ponto elevado da propriedade, indicado pela Setasc para abrigar famílias vulneráveis.
Apelo por “verdade e legalidade”
José Antônio disse não ter intenção de pressionar os vereadores contra o projeto de lei, mas afirmou que busca esclarecer os fatos.
“Queremos andar de mãos dadas com o prefeito, que preza a legalidade. Nunca tomamos medidas drásticas; fomos resilientes até meu pai morrer na espera”, afirmou.
Ele negou qualquer interesse especulativo sobre o terreno.
“Se for para criar galinhas, criaremos. A propriedade é nossa, conquistada com suor”, destacou. Sobre indenização, afirmou que a família não estipulou valores: “Não precificamos; prezamos o direito preservado”.
A família vizinha, os Itacaramby, que tiveram 23 hectares invadidos no mesmo período, enfrenta situação semelhante e também acompanha o debate sobre a desapropriação.
