
No dia 25 de outubro de 2024, uma celebração de aniversário se transformou em um episódio marcante e, no mínimo, inusitado. Ao completar 72 anos, uma mãe surpreendeu seus familiares ao revelar seu último desejo: queria ser cremada e ter suas cinzas lançadas no mar de Ilhabela, litoral norte de São Paulo. Quatro dias depois, de forma repentina e sem apresentar sinais prévios de doença, ela sofreu uma parada cardíaca e faleceu.
Atendendo ao pedido, a família organizou o ritual de despedida em alto-mar. No entanto, o momento de luto foi interrompido por uma curiosidade peculiar da filha da falecida, Michele Severino, de 41 anos, orientadora profissional de Mogi das Cruzes (SP). Ao observar a textura e a cor das cinzas — esbranquiçadas e granuladas, bem diferentes do pó cinza fino que conhecia — Michele passou a desconfiar da procedência do material. A desconfiança foi alimentada por teorias da conspiração envolvendo possíveis vendas de órgãos e trocas de corpos.
Movida pela dúvida, Michele tomou uma atitude extrema: cheirou e provou o conteúdo. “Coloquei um pouco na boca e cheirei, para saber se tinha gosto, cheiro. Não tinha nada”, relatou.
Reação alérgica imediata e sintomas persistentes
Cerca de 15 minutos após o contato com as cinzas, Michele começou a apresentar sintomas intensos: ardência no nariz, olhos vermelhos, falta de ar e erupções na pele. Levando-se ao hospital, ela recebeu injeções de corticoide e antialérgico. Segundo a médica que a atendeu, casos como esse nunca haviam sido registrados em sua carreira.
O filho de Michele, que também teve contato com o pó ao ser apresentado às cinzas da avó, manifestou reações semelhantes, como dificuldade respiratória e irritações cutâneas. Ambos necessitaram de cuidados médicos e Michele relatou que os sintomas duraram cerca de 15 dias, incluindo pele áspera e vermelhidão persistente.
O que pode causar essa reação?
De acordo com o toxicologista Alvaro Pulchinelli, diretor técnico da Toxicologia Forense do Grupo Fleury, as cinzas humanas resultantes da cremação contêm concentrações elevadas de minerais como cálcio, fósforo, sódio e potássio, naturais ao corpo humano, mas altamente concentrados após o processo térmico. “Um corpo de 80 quilos é reduzido a cerca de 2 quilos de restos minerais”, explica.
Além disso, o processo de cremação envolve a incineração não só do corpo, mas também de roupas, caixão, flores e outros objetos, o que contribui para uma composição química variada e potencialmente irritante.
Apesar de geralmente serem consideradas inertes e seguras ao toque, as cinzas podem causar reações quando inaladas ou ingeridas. “Não recomendamos esse tipo de atitude de forma alguma”, alerta Pulchinelli.
Alerta médico e recomendações
O especialista reforça que mesmo pequenas quantidades de elementos presentes nas cinzas podem desencadear reações alérgicas em pessoas sensíveis. E alerta: “Essas reações respiratórias devem ser tratadas com urgência. Não dá para resolver em casa”.
Embora o procedimento de cremação seja considerado seguro e higiênico, os especialistas alertam que deve-se seguir orientações básicas: nunca inalar ou ingerir as cinzas, despejá-las em locais adequados e lavar as mãos após o contato.
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