
Ana Barros é jornalista em Cuiabá
As declarações não são isoladas. Elas constroem um padrão. Um padrão de desrespeito constante às mulheres, tratado com naturalidade por quem deveria combatê-lo — a começar pela própria militância feminista do PT.
Em março de 2022, o site oficial do Partido dos Trabalhadores publicou um texto categórico:
“Misógino é o termo usado para descrever o indivíduo que não respeita nem valoriza as mulheres.” A publicação ainda pontuava que, com a proximidade do Dia Internacional da Mulher, era essencial relembrar episódios “tristes” que mostrariam o verdadeiro caráter de quem pretendia ocupar a presidência — alusão direta a Jair Bolsonaro.
O curioso — ou hipócrita, para sermos mais precisos — é que a mesma descrição se encaixa com perfeição em Luiz Inácio Lula da Silva. Basta voltar no tempo. Basta ouvir seus discursos, que há décadas repetem estereótipos sexistas, misóginos e patriarcais, exatamente os termos tão usados para atacar seus adversários políticos. Ainda assim, o atual presidente segue blindado pela velha imprensa e a militância progressista.
Foram apontadas recentemente em um levantamento as seguintes matérias de veículos da grande mídia, que registram falas e comportamentos misóginos de Lula:
- “Lula afirma que, com salário, mulher pode comprar batom e calcinha” (Jornal O Antagonista, 12 de março de 2024);
- “Lula diz que máquina de lavar roupas é importante para as mulheres” (Poder 360, 9 de maio de 2024);
- “Lula diz que feministas do PT são mulheres de grelo duro… Cadê as mulheres do grelo duro do nosso partido?” (Jornal Opção, 17 de março de 2016);
- “Lula humilhou publicamente Ministra da Saúde que caiu no choro” (Terra Brasil Notícias, 18 de março de 2024);
- “Simone Tebet critica fala machista de Lula: Chega de violência contra a mulher” (Revista Veja, 22 de agosto de 2022);
- “Lula constrange mães de 5 filhos e Ministro cai na gargalhada” (CNN Brasil, 10 de maio de 2024);
- “Feminismo – ‘Eu acho que é coisa de quem não tem o que fazer’, diz Lula” (Jornal Lampião da Esquina).
As declarações não são isoladas. Elas constroem um padrão. Um padrão de desrespeito constante às mulheres, tratado com naturalidade por quem deveria combatê-lo — a começar pela própria militância feminista do PT.
É a misoginia seletiva. Aquela que só choca quando vem “do outro lado”. Aquela que é escandalosa quando dita por conservadores, mas vira “folclore” ou “jeito popular” quando parte do petista. Essa disparidade revela muito sobre os verdadeiros valores de parte da imprensa tradicional e dos chamados “formadores de opinião” nas redes. Onde está a indignação agora? Onde estão os protestos? As hashtags?
Na gestão pública e na retórica de campanha, Lula insiste em se colocar como defensor dos direitos das mulheres. Mas os fatos gritam mais alto: seu histórico de falas grosseiras, reducionistas e ofensivas não é pontual — é uma marca registrada. E ainda assim, seus apoiadores seguem em silêncio, defendendo o indefensável em nome de um projeto de poder.
É esse o presidente que hoje comanda o país. E é esse o retrato de uma esquerda que se diz feminista, mas cala diante do machismo quando ele parte “do lado certo da história”.
