
Em movimento estratégico para ampliar a base de diálogo do governo federal, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, promoveu um encontro reservado com o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara dos Deputados e aliado próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A reunião ocorreu em sua residência oficial, em Brasília, fora da agenda pública.
Inicialmente convidado a comparecer ao Palácio do Planalto, Sóstenes recusou para evitar desgastes com a base bolsonarista, mas aceitou o convite para uma conversa informal em ambiente discreto. O gesto é interpretado como uma tentativa de desconstruir o rótulo de ministra exclusiva da esquerda e ampliar os canais com partidos da oposição, segundo apurou o portal Congresso em Foco.
Na avaliação de Sóstenes, o encontro foi “amistoso” e Gleisi teria se colocado à disposição para um diálogo institucional contínuo. “Estou dando o benefício da dúvida, mas esse prazo não durará muitos meses”, afirmou ele ao jornal O Globo.
Um dos principais temas abordados foi a liberação de emendas impositivas, que, segundo o parlamentar, estão represadas desde o ano passado. Gleisi teria assumido o compromisso de regularizar os pagamentos, que agora serão acompanhados de perto pela liderança do PL.
O gesto da ministra também sinaliza uma tentativa de descompressão política, em um momento em que o governo busca recompor apoio na Câmara diante de pautas delicadas em tramitação.
Apesar de integrarem espectros políticos opostos, Sóstenes e o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ) — que é também companheiro de Gleisi —, mantêm uma relação pessoal de longa data, remontando às mobilizações estudantis pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992.
Segundo Sóstenes, o projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro não entrou na pauta da reunião. O deputado recentemente angariou apoio suficiente para acelerar a tramitação da proposta na Câmara, apesar da resistência do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
No Senado, o presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União-AP), trabalha em uma versão alternativa do projeto de anistia: mais branda para os executores dos ataques e mais dura para financiadores e organizadores.
Enquanto isso, no campo da oposição, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) voltou a fazer barulho nas redes sociais, com um novo vídeo sobre o escândalo do INSS. Em tom inflamado, afirmou que se trata do “maior roubo da história”.