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Na abertura da temporada 2025 do Fronteiras do Pensamento em São Paulo, o psicólogo social Jonathan Haidt, professor da Universidade de Nova York e referência global em saúde mental na era digital, lançou um alerta contundente sobre as mudanças profundas na infância atual — que, segundo ele, não estão ocorrendo para melhor.
Haidt afirmou que crianças e adolescentes que cresceram com smartphones enfrentam “um modo totalmente novo e radical de se desenvolver”, marcado pela diminuição do convívio social, aumento do tempo sedentário e uma queda significativa na capacidade de concentração. “A humanidade está ficando menos inteligente exatamente quando as máquinas se tornam mais capazes do que nós”, disse o especialista.
Durante sua palestra, realizada no auditório Ruy Barbosa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e que atraiu mais de mil pessoas, Haidt destacou a diferença entre gerações separadas por apenas cinco anos. Enquanto as crianças nascidas em 1995 tiveram seus primeiros telefones sem acesso à internet e passaram a adolescência longe das redes sociais, as nascidas em 2000 já cresceram com smartphones e perfis ativos nas redes — um ponto de inflexão importante, na visão do pesquisador.
Ele apresentou dados que mostram uma queda expressiva no tempo que os adolescentes passam com amigos fora do ambiente escolar, traçando um paralelo com o isolamento social da pandemia de Covid-19. “Antigamente, a infância era sinônimo de brincar na rua e socializar. Hoje, ela virou uma experiência solitária, com cada criança isolada diante da sua própria tela”, lamentou.
Além do aumento de ansiedade e depressão entre jovens hiperconectados, Haidt chamou atenção para outro problema menos debatido: a dificuldade crescente para manter a atenção. “As crianças não conseguem se concentrar. Aplicativos como TikTok e Instagram dominam completamente seu foco. É uma disputa injusta”, afirmou.
Defensor de ações governamentais, Haidt sugeriu que países adotem medidas para proteger as gerações mais jovens, como proibir o uso das redes sociais para menores de 16 anos e adiar o acesso aos smartphones até os 14. “Espero que o Brasil também implemente essa proibição até os 16 anos”, declarou.
A fala de Jonathan Haidt reforça a necessidade urgente de repensar a influência das tecnologias digitais na infância e adolescência, visando garantir um desenvolvimento saudável e equilibrado para as futuras gerações.