
Mais do que um fenômeno religioso, o crescimento evangélico nas periferias é um movimento social, que oferece pertencimento, ajuda mútua e, acima de tudo, esperança.
O Brasil está vivendo uma transformação silenciosa e profunda: está se tornando, aos poucos, um país de maioria evangélica. E quem lidera esse crescimento não são grandes templos, mas sim as pequenas igrejas espalhadas pelos bairros periféricos e pelo interior do país — verdadeiras redes de fé, acolhimento e solidariedade.
É o que mostra o documentário “Crentes – Além dos Muros”, da GloboNews, já disponível no Globoplay. A produção revela a força e a diversidade dos evangélicos no Brasil atual, com histórias marcantes de fé e transformação social.
Nos últimos 30 anos, o número de evangélicos disparou. Segundo dados de 2019, já são quase 110 mil igrejas registradas no país — sem contar aquelas que funcionam sem CNPJ, muitas vezes em garagens, salas ou galpões.
Congregações pequenas, fé imensa
A maioria das igrejas são pequenas, como a que a família de Alice frequenta. Alice é autista e muito sensível a barulhos, mas ali, ela encontrou acolhimento. “Ninguém nunca se importou. Tem outras crianças autistas também. E a gente deixa à vontade”, conta a mãe.
Essas comunidades se tornaram pontos de apoio para milhares de brasileiros que enfrentam desigualdade, violência e falta de acesso a serviços públicos. Em Natal (RN), por exemplo, a chegada de uma igreja evangélica à antiga favela Japão ajudou a pacificar a região. “Quatro mulheres começaram a visitar as famílias da comunidade. Isso mudou tudo”, conta Kelly Lima, professora e líder comunitária.
Hoje, Kelly coordena um projeto que oferece aulas de taekwondo para mais de 90 jovens. O pastor Bruno atua na recuperação de dependentes químicos, e a missionária Cleide Soares apoia mulheres em um presídio feminino.

“Sem amor, vira talibã gospel”
O pastor José Marcos, de Recife, faz um alerta importante: “Se a gente não botar freio na intolerância religiosa, a gente vira um talibã gospel”. A fala reforça a importância da convivência respeitosa em um país plural.
Quem são os crentes?
Segundo o antropólogo Juliano Spyer, autor de dois livros sobre o tema, os evangélicos no Brasil são, em sua maioria, pretos ou pardos, pobres, moradores da periferia, jovens e, em sua maioria, mulheres. Ele explica ainda a origem do termo “crente”, tão comum entre os fiéis: “Está na Bíblia. Cremos num Evangelho que transforma, que traz paz e justiça. O amor é exercitado na diferença”.
No bairro do Grajaú, na zona sul de São Paulo, Juliano mapeou igrejas de moto, rua por rua. Em apenas 100 metros, encontrou diversas Assembleias de Deus de ministérios diferentes. A fé também aparece em fachadas de lojas e bares: “Bar da Rose – Deus é Fiel”, diz uma delas.
Mais do que um fenômeno religioso, o crescimento evangélico nas periferias é um movimento social, que oferece pertencimento, ajuda mútua e, acima de tudo, esperança.
Fonte G1