
Brasília ganhou um tom ensurdecedor nesta terça-feira (29), não pelas palavras, mas pelo ronco de centenas de motocicletas que acompanharam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em mais uma motociata — talvez a última, segundo aliados próximos.
O evento, tratado por sua base como uma espécie de ensaio geral para as manifestações previstas no próximo domingo (3/8), teve todos os elementos de uma encenação cuidadosamente planejada: o silêncio, o comboio, os acenos e a presença de Michelle Bolsonaro, de mãos dadas com o marido em um gesto que misturava carinho e simbolismo político.
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Sem discursar, respeitando as recomendações médicas e as imposições cautelares do STF, Bolsonaro limitou-se a caminhar cerca de 150 metros, tirar fotos com apoiadores e seguir até um trio elétrico. Lá estavam também o filho Flávio Bolsonaro, o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) e a vice-governadora do DF, Celina Leão (PP), compondo o cenário de apoio institucional e emocional.
A motociata partiu do Parque de Exposições de Brasília até a Rodoviária do Plano Piloto, num trajeto de 23 km com vista privilegiada para o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. A simbologia não passou despercebida — tampouco os cartazes: entre eles, um enorme “BolsoTrump & TrumpOnaro”, selando de vez o elo emocional entre Bolsonaro e os seguidores do ex-presidente dos EUA.
Chama atenção a ausência de microfone. Mas também é eloquente a forma com que o silêncio de Bolsonaro foi preenchido por olhares, abraços, selfies e uma coreografia que o aproxima, mais uma vez, da base que nunca o abandonou. Um gesto político comedidamente calculado — especialmente às vésperas de uma manifestação nacional contra o STF e o ministro Alexandre de Moraes.
Se era um ato de despedida, foi também um lembrete: Jair Bolsonaro continua a ser um personagem central no palco da direita brasileira. Ainda que não fale, sua presença continua a provocar aplausos — e também ruídos.