
E ética, nesse contexto, não é um luxo. É o alicerce de tudo.
Em tempos de polarização política e redes sociais inflamadas, o jornalismo verdadeiro e imparcial tornou-se mais do que uma necessidade: é um pilar essencial da democracia. A função de informar o público com responsabilidade, sem distorções ideológicas ou interesses pessoais, deve ser o compromisso central de todo comunicador. Quando um jornalista se esquece desse princípio e transforma a notícia em palanque ou tribunal de opinião, perde-se a credibilidade, e mais grave ainda — compromete-se a confiança da sociedade na imprensa.
A linha entre informar e opinar precisa ser respeitada. A notícia exige objetividade, apuração rigorosa e clareza. Já o artigo de opinião é o espaço legítimo para que o comunicador exponha suas ideias, interpretações e posicionamentos. Confundir esses dois formatos não é apenas um erro técnico — é uma falha ética.
O papel do comunicador: servir à sociedade, não a si mesmo
O comunicador tem a missão de ser ponte entre os fatos e o público. Seu papel é o de traduzir, investigar e contextualizar os acontecimentos com base em dados, documentos e fontes confiáveis. Não cabe a ele — no espaço jornalístico — emitir juízo de valor, atacar ou defender personalidades públicas, nem mesmo sugerir preferências políticas, religiosas ou ideológicas.
Se uma notícia envolve um político investigado, por exemplo, é função do jornalista mostrar o que diz o inquérito, a defesa, os antecedentes e as consequências jurídicas do caso. Jamais cabe à reportagem insinuar se o profissional “deveria estar preso” ou se é “perseguido pela mídia”. Esse julgamento é do leitor, não do redator.
Perguntar não é atacar: o cuidado ao entrevistar figuras públicas
A entrevista é uma das ferramentas mais poderosas do jornalismo, mas precisa ser usada com rigor técnico. O entrevistador não deve buscar criar intrigas, provocar reações emocionais ou colocar palavras na boca do entrevistado. O objetivo deve ser sempre esclarecer dúvidas de interesse público e permitir que o entrevistado se manifeste.
Veja a diferença entre uma pergunta mal-intencionada e uma pergunta correta:
- ❌ “Você não acha vergonhoso o que seu partido fez no último escândalo?”
- ✅ “Como o senhor avalia a repercussão do escândalo envolvendo membros do seu partido?”
- ❌ “A população está dizendo que você mente — como responde a isso?”
- ✅ “Algumas críticas apontam inconsistências nas suas falas anteriores. O que o senhor tem a dizer sobre isso?”
- ❌ “Você apoia um governo acusado de corrupção. Isso não é conivência?”
- ✅ “O governo que o senhor apoia foi citado em denúncias de corrupção. O que o motivou a continuar dando suporte a essa gestão?”
A mudança no tom é clara. A versão incorreta insinua, acusa, milita. A versão correta busca explicações, dá espaço à fala e convida à reflexão — que é justamente o papel do jornalismo responsável.
Conclusão: ética, sempre
A imprensa não existe para vencer debates, mas para iluminá-los. O jornalista não é um juiz, nem um militante disfarçado de repórter. Seu compromisso é com a verdade, com a sociedade e com a integridade da informação. Se há desejo de opinar, o artigo é o espaço legítimo. Mas enquanto estiver redigindo uma notícia ou conduzindo uma entrevista, o comunicador deve lembrar: ele não está ali por si mesmo — está a serviço do público.
E ética, nesse contexto, não é um luxo. É o alicerce de tudo.