
Ana Barros é jornalista em Cuiabá
Sou admiradora do trabalho de Paolla Oliveira. Como atriz, ela construiu uma carreira sólida, versátil, e tem um posicionamento firme diante das críticas que recebe — algo raro e admirável em tempos de julgamentos apressados. Por isso, assisti com atenção à sua entrevista no programa Roda Viva, na última segunda-feira (5), especialmente por ter acontecido na semana do Dia das Mães.
Na conversa, Paolla falou de temas importantes e necessários: os padrões estéticos que aprisionam mulheres, a romantização da maternidade, o estigma contra o alcoolismo e, principalmente, o direito da mulher de fazer escolhas sobre o próprio corpo. É inegável que essas pautas precisam continuar sendo debatidas com maturidade e respeito.
No entanto, foi sua defesa da legalização do aborto que me provocou reflexões mais profundas. Paolla foi clara: “Acho que isso é uma escolha da mulher, e eu sou a favor.” Ela defende que não se deve ter vergonha de não querer ser mãe, e nisso concordo plenamente. A maternidade deve ser uma escolha — nunca uma imposição.
Mas é justamente por acreditar no poder da escolha consciente que me incomoda a ideia de associar o aborto diretamente ao empoderamento feminino. Abortar não é sinônimo de poder. Ser empoderada é, antes de tudo, ser informada, ter acesso à educação sexual, aos métodos contraceptivos, ao diálogo aberto com a realidade do próprio corpo.
Não se trata de proibir o debate. Não se trata de criminalizar quem, em situações extremas e dolorosas, optou por interromper uma gestação. O ponto aqui é outro: precisamos reforçar que o verdadeiro empoderamento está em se cuidar, em se conhecer, em prevenir — e não em transformar o aborto em uma saída aceitável por padrão.
O Brasil precisa, sim, avançar. Mas esse avanço deve começar pela base: oferecer às mulheres (e aos homens também) educação de qualidade, saúde pública eficaz e acesso real à informação. Precisamos falar sobre como evitar uma gravidez indesejada antes de falar sobre interrompê-la, em matar um ser que não pediu para ser feito, enfim…
Paolla tem direito à sua opinião — e não me surpreende que ela a exponha com coragem. Mas na semana em que celebramos tantas mães guerreiras, que deram tudo de si para criar seus filhos com amor, ás mães que mesmo sendo vitimas de um estupro optaram por gerar e criar seus filhos, ás mães que acordam cedo para colocar a comida na mesa, faltou um olhar mais generoso para essa dimensão do feminino que também é potência.
A liberdade de não querer ser mãe é real e legítima. Mas o empoderamento de verdade não se alcança com um procedimento. Se alcança com escolhas feitas antes — com prevenção, educação, autonomia e consciência.
Ana Barros é jornalista em Cuiabá