
Desde as lendas da Antiguidade até os filmes de Hollywood, o fascínio — e o medo — por cobras gigantes acompanha a humanidade. No imaginário popular, elas são retratadas como predadoras implacáveis, capazes de devorar qualquer coisa que cruze seu caminho, inclusive pessoas. Mas será que essa ideia tem algum fundo de verdade?
A resposta é: sim, mas muito raramente. Apenas uma espécie de serpente no mundo possui registros comprovados de engolir seres humanos — a píton-reticulada (Malayopython reticulatus), nativa do Sudeste Asiático.
A verdadeira “cobra gigante”
Essas pítons podem atingir até 10 metros de comprimento e pesar mais de 100 kg. São fortes, ágeis e especializadas em caçar mamíferos de médio porte, como porcos e veados. Graças a uma mandíbula extremamente flexível e costelas expansíveis, elas conseguem engolir presas com até três vezes o diâmetro do próprio corpo.
Casos documentados na Indonésia confirmam que humanos já foram vítimas. Em 2017, o agricultor Akbar Salubiro, de 25 anos, desapareceu e foi encontrado dentro de uma píton de sete metros. Situação semelhante ocorreu em 2024, quando Siriati, de 36, teve o mesmo destino. São histórias trágicas — mas exceções em meio a milhões de interações pacíficas com esses animais.
E as sucuris da Amazônia?
A sucuri-verde (Eunectes murinus), rainha das águas sul-americanas, é a cobra mais pesada do planeta, podendo ultrapassar 200 kg. Apesar da fama alimentada por lendas amazônicas e filmes como Anaconda, nunca houve prova científica de que uma sucuri tenha engolido um ser humano. Elas se alimentam, principalmente, de capivaras, jacarés e bezerros — presas grandes, mas dentro dos limites naturais de seu apetite.
Como funciona a “técnica da constrição”
Ao atacar, as cobras constritoras não usam veneno: elas envolvem a vítima com o corpo e aplicam uma pressão tão intensa que impede a circulação sanguínea, levando à parada cardíaca. O processo de digestão é lento — pode durar semanas — e, nesse período, a serpente praticamente não se move.
Mito versus realidade
Mesmo que o tema continue a inspirar filmes, séries e pesadelos, é importante lembrar: os ataques a humanos são exceções extremas. Cobras não veem pessoas como alimento — e só atacam quando se sentem ameaçadas ou em defesa de seu território.
Em resumo, sim, uma cobra pode engolir um ser humano — mas isso está muito mais próximo da raridade científica do que do terror cinematográfico.