Uma investigação conduzida na Argentina derrubou um esquema bilionário de streaming pirata que atendia principalmente clientes no Brasil. Entre os serviços desativados estão o My Family Cinema e o TV Express, plataformas usadas por modelos de TV boxes como Duosat e BTV — aparelhos vendidos no Brasil sem autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Fora do ar há cerca de uma semana, o My Family Cinema anunciou o encerramento permanente de suas atividades “por questões de direitos autorais”. Nas redes sociais, usuários brasileiros relataram falhas no serviço e até registraram reclamações no site ReclameAqui, mesmo com o caráter ilegal das plataformas.
Segundo a Alianza, associação latino-americana contra a pirataria audiovisual, 14 serviços já foram derrubados entre sábado (1º) e terça-feira (4), e o número deve chegar a 28 até o fim de novembro. Juntas, as plataformas tinham cerca de 6,2 milhões de assinantes, sendo 4,6 milhões no Brasil.
A associação estima que o grupo movimentava entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões por ano — o equivalente a até R$ 1 bilhão. Os clientes pagavam de US$ 3 a US$ 5 mensais (R$ 16 a R$ 27) para acessar filmes, séries e transmissões esportivas sem licença. Entidades como La Liga, organizadora do Campeonato Espanhol, colaboraram com as investigações.
Investigação começou em 2024
A operação teve início após denúncia da Alianza ao Ministério Público Fiscal de Buenos Aires. A entidade havia comprado aparelhos de TV box equipados com o aplicativo MagisTV, também conhecido como UniTV e HTV, para rastrear a origem do esquema.
Em agosto de 2025, a Justiça argentina autorizou buscas em quatro escritórios que funcionavam como centrais de distribuição e atendimento. Um deles tinha cerca de 100 funcionários registrados formalmente, com departamentos administrativos e de recursos humanos.
Durante as apreensões, foram recolhidos 88 notebooks, 37 discos rígidos, 568 cartões de recarga, além de dinheiro em espécie e criptomoedas equivalentes a cerca de R$ 700 mil.
Por que o esquema funcionava na Argentina
Embora os principais consumidores estivessem no Brasil, a operação era baseada na Argentina. Segundo Jorge Alberto Bacaloni, presidente da Alianza, o país foi escolhido por ter mão de obra qualificada, custos mais baixos e um mercado doméstico pequeno, o que dificultava a detecção das atividades.
A investigação também identificou a participação de ex-executivos e funcionários de grandes empresas de mídia.
Plataformas derrubadas
Entre as 14 plataformas retiradas do ar estão My Family Cinema, TV Express, Eppi Cinema, Vela Cinema, Cinefly, Vexel Cinema, Humo Cinema, Yoom Cinema, Bex TV, Jovi TV, Lumo TV, Nava TV, Samba TV e Ritmo TV.
O bloqueio técnico demorou algumas semanas para ser concluído, já que os servidores que hospedavam o conteúdo estavam localizados na China.
TV boxes e legalidade no Brasil
De acordo com a Anatel, o uso de TV boxes é permitido apenas quando o aparelho é homologado pela agência. O processo garante que o equipamento atenda às normas de segurança cibernética e de funcionamento de redes.
A agência afirma colaborar com entidades como a Alianza, a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) e a Agência Nacional do Cinema (Ancine) no combate à pirataria digital.
“Além de possibilitar a pirataria, TV boxes piratas podem interferir em outros aparelhos legítimos e permitir ataques hackers às redes de seus usuários”, informou a Anatel em nota.
