
Ana Barros é jornalista em Cuiabá
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Durante a entrega de obras do novo PAC no sertão paraibano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “Deus deixou o sertão sem água porque ele sabia que eu ia ser presidente da República e que eu ia trazer água pra cá.” A fala, carregada de vaidade e simbologia exagerada, mais parece saída de um delírio messiânico do que de um discurso presidencial responsável.
É evidente que a transposição do Rio São Francisco é uma obra importante, construída ao longo de décadas, por diversos governos e com muito investimento público. Reduzir esse feito histórico à figura de um único homem é desonesto — com a população, com os técnicos que tocaram o projeto, e com a própria realidade dos fatos. Ao dizer que foi “escolhido por Deus” para resolver um problema de séculos, Lula menospreza o esforço coletivo e insinua que só sob seu governo a solução seria possível.
Esse tipo de discurso pode até agradar a militância fiel e arrancar aplausos em eventos, mas compromete a credibilidade institucional da presidência da República. A comunicação pública precisa de clareza, responsabilidade e compromisso com a verdade. Não é papel de um chefe de Estado fazer piada com a seca nordestina ou se colocar como protagonista absoluto de uma luta que pertence a milhares de brasileiros.
Num momento em que o país precisa de líderes lúcidos, que respeitem a inteligência do cidadão e valorizem a democracia, Lula opta mais uma vez por um tom narcisista, inflado por sua própria retórica e por uma visão deturpada de protagonismo político.
O Brasil não precisa de salvadores da pátria. Precisa de gestores comprometidos com a verdade, com o coletivo e com os desafios reais do país — sem delírios divinos.