
“Recentemente, durante uma entrevista, comentei que adotei um de meus filhos sabendo que ele carregava o gene do HIV. A repercussão foi mal interpretada. Nunca tinha falado disso publicamente, embora a história já tenha mais de duas décadas”, revela o ator Marcello Antony.
Francisco nasceu de uma mãe soropositiva. Com acompanhamento médico adequado e sem amamentação, ele nunca desenvolveu a doença. “A ciência evoluiu muito desde então, e hoje é mais fácil prever as chances de transmissão do vírus em recém-nascidos.”
Antony conta que nunca havia exposto também o lado espiritual daquele encontro: “Parecia coisa de outras vidas. Do ponto de vista psicanalítico, eu me projetei nele. Era uma criança vulnerável precisando de acolhimento — um sentimento que eu mesmo tratava em terapia.”
Na época, ele era casado com a atriz Mônica Torres. Após cinco gestações que não chegaram ao fim por incompatibilidade sanguínea, o casal decidiu adotar. “Mônica visitou um orfanato e se encantou com um garoto que chorava muito. Ninguém queria adotá-lo porque a mãe era soropositiva. Mas ela viu algo especial: os olhos verdes dele.”
Quando Marcello foi conhecer o menino, sentiu uma conexão imediata: “Na hora pensei: ‘Cara, onde você estava esse tempo todo?’. Me vi encantado por aqueles olhos. Brinquei: ‘Onde assino? Posso levar pra casa?’”.
Com apoio de um desembargador que agilizou o processo, em apenas um mês Francisco se tornou, oficialmente, filho de Marcello Antony.
Hoje, pai e filho vivem em Lisboa. Francisco trabalha como auxiliar de cozinha numa rede de comida saudável e está prestes a ser promovido a chef da equipe. “Dos meus cinco filhos, ele é o único que mora sozinho. Está com ótima saúde, amadurecendo, criando casca, descobrindo sua independência. É motivo de orgulho.”