
O feriado da Independência terminou marcado por manifestações com discursos antagônicos em várias capitais do país, reunindo protagonistas da direita e da esquerda e evidenciando as atuais divisões políticas brasileiras.
Direita em movimento: anistia e críticas ao Judiciário
Nas ruas, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reivindicaram anistia para os envolvidos na chamada “trama golpista” – investigações sobre tentativas de reverter o resultado das eleições de 2022 – e direcionaram duras críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em Brasília, nomes como Jaime Bagattoli (PL-RO), Zé Trovão (PL-SC), Mario Frias (PL-SP), Alberto Fraga (PL-DF), Damares Alves (Republicanos-DF) e Bia Kicis (PL-DF) discursaram em tom combativo e político. Em uma das falas, Mario Frias declarou: “Bolsonaro não cometeu nenhum crime. Eleição sem Bolsonaro é golpe.” Já Bia Kicis proclamou: “Somos a voz do Bolsonaro. Somos o exército da liberdade e justiça.” Houve inclusive reprodução de um curto áudio de Michelle Bolsonaro, em que ela mencionava uma suposta perseguição política.
No Rio de Janeiro, o ato se concentrou em Copacabana, com bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e o governador Cláudio Castro (PL-RJ) participaram do evento, que teve tom de contraponto ao julgamento em andamento no STF.
Em São Paulo, na Avenida Paulista, o discurso foi reforçado com críticas ao Judiciário e defesa da liberdade para os condenados pelos ataques às sedes dos Três Poderes.
Esquerda nas ruas: soberania, justiça social e cultura
Na outra ponta, movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda organizaram atos em defesa da soberania nacional, da justiça social e da taxação dos super-ricos.
Em Brasília, o Grito dos Excluídos tomou forma entre o Setor Bancário Sul e a Rodoviária do Plano Piloto, com concentração na Praça Zumbi dos Palmares (Conic), mantendo como tema “Vida em Primeiro Lugar”. Entre as demandas estavam a regulamentação da jornada 6×1, a realização de plebiscito popular e maior atenção a idosos, mulheres, população negra e pessoas em situação de rua.
O movimento também teve forte apelo cultural, com música, poesia, rodas de capoeira e teatro. Entre os artistas, esteve presente Martinha do Coco, figura do carnaval de Brasília. Participaram ainda lideranças políticas como o ministro Márcio Macêdo, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) e os distritais Fábio Félix (PSOL) e Gabriel Magno (PT).
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que enfrenta pedido de cassação e participou de uma greve de fome, compareceu ao ato com o filho no colo. Sua esposa, a deputada Samia Bonfim (PSOL-SP), esteve em manifestação paralela em São Paulo.
Na capital paulista, o ato foi realizado na Praça da República com o lema “Quem manda no Brasil é o povo brasileiro”. Houve críticas a medidas do governo americano de Donald Trump, associadas ao julgamento de Bolsonaro. Outro núcleo do Grito dos Excluídos se concentrou na Praça da Sé, voltado para a população em situação de rua, com distribuição de cafés da manhã e protestos contra fome, violência policial, racismo estrutural e desigualdade social.
Cartazes exibiam mensagens como “Todas as formas de vida importam, mas quem se importa?” e “Liberdade religiosa”. Estiveram presentes lideranças como Guilherme Boulos (PSOL-SP), Luiz Marinho (PT-SP) e representantes de centrais sindicais. Entre as pautas, estavam a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a redução da jornada de trabalho sem corte salarial.