
O Palácio do Itamaraty foi palco, nesta quinta-feira (22), da abertura do II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural. Entre ministros dos dois continentes, o brasileiro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, e autoridades africanas debateram inovação, financiamento e sustentabilidade para transformar a produção agropecuária de ambos os lados do Atlântico.
Do salão nobre às experiências de campo
No painel de “Sistemas agroalimentares sustentáveis e resilientes ao clima”, Fávaro destacou como a Embrapa, criada em 1973, foi o motor de uma revolução: “Há 50 anos éramos importadores de alimentos. Com pesquisa e melhoramento genético, transformamos nosso semiárido, cerrado e florestas em um celeiro global.” O ministro lembrou que todas as variedades de capim usadas hoje na pecuária brasileira têm origem africana e anunciou a disposição de transferir tecnologia aprimorada sem a espera de meio século.
Crédito agrícola e recuperação de terras
Fávaro também explicou o papel do crédito rural na expansão do setor e lançou o programa Caminho Verde Brasil, que visa recuperar 40 milhões de hectares de áreas degradadas em uma década. “Recuperar o que já está comprometido é mais eficiente e sustentável que desmatar novas áreas”, afirmou, apontando oportunidade similar em muitos países africanos.
Vozes africanas e o reforço das parcerias
O ministro angolano Isaac dos Anjos confirmou disposição de estreitar negócios com o Brasil após missão brasileira em Luanda: “Queremos investimentos em agricultura, pecuária e florestas que impulsionem nosso Plano de Desenvolvimento Nacional.” Já o ruandês Cyubahiro Marc Bagabe destacou a necessidade de adaptar modelos de financiamento locais, e o brasileiro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, apontou no Plano Safra um exemplo de sucesso em acesso ao crédito para pequenos produtores.
Protagonismo diplomático
Na abertura, a primeira-dama Janja Lula da Silva saudou o encontro como primeiro intercâmbio oficial da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, sublinhando a solidariedade Sul-Sul. A diretora da Agência de Desenvolvimento da União Africana, Nardos Bekele-Thomas, conclamou à institucionalização de um “marco formal Brasil-África”, com Embrapa em destaque, para garantir transferência contínua de conhecimento.
Também participaram o chanceler Mauro Vieira, o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o titular do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias. A iniciativa amplia o diálogo técnico e abre caminho para novos investimentos, linhas de crédito e políticas conjuntas que possam aliviar a fome e fortalecer o desenvolvimento rural em ambos os continentes.