Um levantamento divulgado nesta quarta-feira (26) pelo Movimento Pessoas à Frente colocou o Brasil no topo de um ranking internacional de supersalários no serviço público. A pesquisa, que analisou remunerações acima do teto constitucional em 11 países, entre eles Alemanha, Estados Unidos, França, Reino Unido e Argentina, concluiu que nenhum deles gasta tanto quanto o Brasil com contracheques que ultrapassam o limite oficial, segundo informações do jornal Extra.
De acordo com o estudo, entre agosto de 2024 e julho de 2025, supersalários consumiram R$ 20 bilhões dos cofres públicos. O montante representa um gasto 21 vezes superior ao registrado na Argentina, segunda colocada. No período analisado, 53,5 mil servidores ativos e inativos receberam acima de R$ 46.366,19, valor que constitui o teto constitucional.
A maior parte dessas remunerações está concentrada em carreiras jurídicas. Quase 11 mil juízes brasileiros receberam mais de US$ 400 mil no período, montante superior ao pago a magistrados em sete dos dez países avaliados. Procuradores, advogados da União e membros do Ministério Público também figuram entre os grupos mais beneficiados. A pesquisa utilizou a paridade do poder de compra (PPC) para comparar o impacto real das remunerações em diferentes moedas.
Nos Estados Unidos, terceiro país do ranking, pouco mais de 4 mil servidores receberam acima do limite. Nos demais países analisados, nenhum ultrapassou 2 mil casos — e a Alemanha não registrou sequer um pagamento acima do teto.
O Movimento Pessoas à Frente é uma articulação suprapartidária que reúne especialistas, servidores públicos, parlamentares, integrantes do Judiciário, órgãos de controle e organizações da sociedade civil. O grupo busca propor melhorias na gestão de pessoas do Estado, produzindo estudos sobre remuneração e desempenho, e defende maior transparência, eficiência e racionalidade no funcionalismo. A iniciativa é apoiada por instituições do terceiro setor, como Fundação Lemann, Humanize e República.org.
Impacto na desigualdade
O levantamento também mediu o efeito dos supersalários na distribuição de renda. Aproximadamente 40 mil servidores fazem parte do 1% mais rico do país, com renda anual superior a R$ 685 mil. Desse grupo, 49,8% são membros da magistratura e 21,1% do Ministério Público. Para os pesquisadores, esse cenário transforma o Estado em “veículo de concentração de renda”, ao recolher impostos da população e redistribuir parte significativa a uma parcela restrita do funcionalismo.
Em nota, o Conselho Nacional de Justiça afirmou que os tribunais têm autonomia para fixar remunerações e que o órgão só atua posteriormente, examinando e suspendendo pagamentos irregulares. Já o Ministério da Gestão e Inovação informou que, no Executivo Federal, apenas 1% dos 1,2 milhão de servidores recebe acima do teto, em razão de parcelas indenizatórias previstas em lei, como adicionais noturnos, de férias, insalubridade e periculosidade, que não entram no cálculo do limite constitucional.
A ministra Esther Dweck afirmou que o enfrentamento aos supersalários é necessário, mas depende de articulação política. “Sem consenso, essa agenda não vai avançar”, disse durante evento do Movimento Pessoas à Frente.
