
Uma pesquisa realizada em abril revelou que 90% dos brasileiros com mais de 18 anos e acesso à internet acreditam que adolescentes não recebem o apoio emocional e social necessário para enfrentar os desafios do ambiente digital, especialmente nas redes sociais. O levantamento ouviu mil pessoas conectadas em todas as regiões e classes sociais do país, com margem de erro de 3 pontos percentuais e intervalo de confiança de 95%.
O estudo, conduzido pelo Porto Digital em parceria com a Offerwise, surgiu a partir da repercussão de uma série exibida pela Netflix, que retrata os dilemas da juventude imersa no universo online e o distanciamento nas relações entre pais e filhos. Segundo os dados, 70% dos entrevistados defendem a presença de psicólogos nas escolas como medida essencial para combater problemas como bullying, violência escolar, depressão, ansiedade e pressão estética — questões apontadas como os principais desafios da saúde mental de jovens.
Para o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, é urgente que a tecnologia seja humanizada e utilizada a serviço da sociedade. “O cuidado com a juventude deve ser compromisso compartilhado entre escolas, famílias, empresas e governos. O futuro da inovação está diretamente ligado à forma como cuidamos dos nossos jovens”, afirmou.
A pesquisa também mostra que, embora o controle parental sobre o uso da internet seja mais rigoroso entre crianças de até 12 anos, apenas 20% dos pais afirmam que pretendem utilizar futuramente ferramentas de monitoramento. Entre os adolescentes, a supervisão tende a diminuir, dando lugar a uma maior autonomia.
Para Julio Calil, diretor-geral da Offerwise, é essencial criar espaços de acolhimento e orientação para pais e filhos, diante da exposição precoce e intensa das crianças às redes sociais. “A população reconhece a necessidade de esforços conjuntos para tornar o ambiente digital mais seguro e saudável”, destacou.
Outro ponto sensível abordado no debate é a mudança recente nas regras de moderação de conteúdo por grandes plataformas digitais, que, ao reduzirem a filtragem de publicações, acabam ampliando a exposição de jovens a discursos de ódio e desinformação. Para Luciano Meira, professor adjunto de psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, a decisão prioriza interesses comerciais e políticos das empresas. “Isso diminui a responsabilidade social das big techs e aumenta a vulnerabilidade de populações sensíveis, como jovens e idosos”, alertou.
Em meio a isso, o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa a constitucionalidade do Artigo 19 do Marco Civil da Internet, que define a responsabilidade das plataformas sobre conteúdos postados por usuários. Além disso, o Projeto de Lei 2.630/2020, conhecido como PL das Fake News, tramita no Congresso e busca regular a atuação das redes sociais no Brasil.
Para Meira, o caminho passa pela construção de relações de confiança em casa, na escola e na sociedade, além de estabelecer limites claros para o uso de redes sociais. “Sem diálogo aberto e orientação, medidas de controle se tornam ineficazes. É preciso equilibrar o mundo digital e o físico, criando ambientes de convivência saudável e educação para a cidadania digital”, concluiu.