
Uma pesquisa nacional realizada pelo IBESPE/BR Call entre os dias 1º e 3 de agosto revela que a maioria dos brasileiros enxerga a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos nacionais como uma retaliação política. O levantamento, que ouviu 1.003 pessoas em todas as regiões do país, mostra que 60% dos entrevistados acreditam que a decisão teve motivação política, enquanto apenas 29,7% a consideram uma medida estritamente comercial.
“Mesmo com o esforço em rotular a medida como econômica, os dados mostram que a maioria da população compreendeu o contexto geopolítico da decisão. Isso revela uma consciência política que vai além da superfície das narrativas”, avalia o cientista político Marcelo Di Giuseppe, coordenador da pesquisa.
A imposição da tarifa ocorreu dias após o deputado Eduardo Bolsonaro denunciar, nos Estados Unidos, supostos abusos do Supremo Tribunal Federal (STF) e do ministro Alexandre de Moraes. O gesto foi alvo de críticas por parte de opositores, que o acusaram de contribuir para a retaliação americana. No entanto, a percepção popular segue outro caminho: apenas 2,8% dos entrevistados culpam Eduardo Bolsonaro pela tarifa, enquanto 25,3% responsabilizam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e 19,9% apontam o presidente norte-americano Donald Trump como principal responsável.

“A tentativa de criminalizar a denúncia feita por Eduardo Bolsonaro não encontrou respaldo na opinião pública. Ao contrário do que alegaram seus adversários, a população majoritariamente não o vê como traidor da pátria”, afirma Di Giuseppe.
Outro ponto destacado pelo estudo é a influência dos meios de comunicação na formação da opinião pública. De acordo com os dados, brasileiros que se informam por redes sociais ou rádio tendem a perceber com mais clareza o caráter político da medida, enquanto aqueles que dependem da televisão são mais propensos a aceitar a explicação oficial de cunho comercial.

“Essa pesquisa evidencia que estamos diante de uma disputa narrativa, e que os meios alternativos de informação estão conseguindo romper o monopólio da interpretação dos fatos”, conclui Di Giuseppe.