
No dia 18 de maio de 1973, o Brasil foi abalado por um dos crimes mais brutais já registrados contra uma criança. Araceli Cabrera Sánchez Crespo, de apenas 8 anos, desapareceu após sair da escola em Vitória (ES) e, seis dias depois, teve o corpo encontrado com sinais de abuso sexual, tortura e desfiguração.
Cinquenta e um anos depois, o Caso Araceli permanece como símbolo da impunidade e da urgência em proteger crianças e adolescentes da violência sexual.
Um crime que chocou o país
Araceli não voltou para casa naquele 18 de maio. O pai procurou a imprensa local na tentativa de obter qualquer pista. Em 24 de maio, o corpo da menina foi achado em um matagal na Praia do Suá, em estado avançado de decomposição.
A perícia revelou a crueldade do crime: Araceli foi drogada com barbitúricos, estuprada, morta por asfixia e teve o corpo queimado com ácido.
Impunidade e influência política
As investigações logo despertaram suspeitas. O sargento responsável pelo caso foi assassinado, e surgiram indícios de proteção aos principais suspeitos — dois jovens empresários de famílias influentes da capital capixaba.
Em 1980, após anos de pressão popular, Paulo Constanteen Helal e Dante de Barros Michelini chegaram a ser condenados. No entanto, a sentença foi anulada. Em 1991, ambos foram absolvidos, sob a justificativa de “falta de provas”. Para grande parte da sociedade, a decisão soou como mais um exemplo de que o poder e o dinheiro se sobrepuseram à justiça.
Araceli virou símbolo
A absolvição dos acusados, mesmo diante de fortes indícios, transformou o caso em símbolo da impunidade e do silêncio que envolve a violência sexual infantil. O livro “Araceli, meu amor”, do jornalista José Louzeiro, que denunciava a influência das elites e a omissão das autoridades, chegou a ser censurado pela ditadura militar.
O crime deixou marcas profundas na memória do país.

O 18 de Maio virou dia de luta
Somente em 2000, 27 anos após o assassinato, o Brasil instituiu oficialmente o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, por meio da Lei nº 9.970/2000, proposta pela então deputada Rita Camata.
A escolha da data foi uma forma de manter vivo o nome de Araceli e transformar o luto em mobilização social.
O problema ainda está entre nós
Apesar de campanhas, denúncias e avanços legislativos, o Brasil ainda enfrenta graves desafios no combate à violência sexual infantil. A subnotificação, a morosidade nos julgamentos e a falta de estrutura para acolhimento das vítimas são obstáculos constantes.
ONGs, escolas, órgãos públicos e movimentos sociais, como o Todos Contra a Pedofilia, promovem anualmente ações educativas e de conscientização em alusão ao 18 de Maio. A missão é clara: educar, prevenir e proteger.
Não se cale. Denuncie.
Araceli não foi esquecida. Seu nome se tornou um alerta permanente. A violência contra crianças precisa ser enfrentada com coragem e responsabilidade coletiva.
Denunciar é um ato de cidadania.
📞 Disque 100 – Canal nacional para denúncias de violação de direitos humanos.

