
Ana Barros é jornalista, assessora de imprensa e estrategista digital
A morte violenta de Charlie Kirk, ativista conservador norte-americano assassinado na última semana, expôs um dilema comum a empresários, políticos e figuras públicas: em meio a tragédias e polêmicas, o que fazer? Falar, calar ou apenas observar?
Esse é o tipo de decisão que não pode ser tomada por impulso. No universo da comunicação estratégica, cada palavra, cada silêncio e até mesmo a ordem em que as frases aparecem podem se transformar em arma contra quem fala.
O peso das palavras em momentos de crise
O risco de um posicionamento mal conduzido é grande. Uma declaração pública pode ser interpretada de forma completamente diferente da intenção original, principalmente em um ambiente polarizado.
Um empresário que se manifesta de forma fria pode ser tachado de insensível. Um político que fala em excesso pode ser acusado de oportunista. Uma figura pública que tenta ser neutra pode acabar sendo vista como incoerente.
O erro mais comum é falar demais — ou falar errado. Expressões mal colocadas, frases ambíguas ou até mesmo o tom da voz podem transformar uma nota de pesar em polêmica nacional. E quando isso acontece, o estrago é imediato: trending topics, críticas virais, cancelamento e, em alguns casos, desgaste irreversível da reputação.
A função do assessor de imprensa
É nesse ponto que entra o papel crucial da assessoria de imprensa: orientar sobre como falar, quando falar e até se deve falar.
O posicionamento precisa atender a três pilares:
- Clareza – sem metáforas, sem floreios. A mensagem precisa ser direta e compreensível para todos.
- Empatia – reconhecer a dor da perda de uma vida, sem entrar em disputas ideológicas.
- Limite – parar no ponto certo, evitando transformar solidariedade em debate político.
Melhor calar ou se comover?
A pergunta central permanece: é melhor se calar ou se comover?
A resposta é: depende. Se o cliente não tem nenhuma ligação com a vítima ou com o contexto, o silêncio pode ser a escolha mais prudente. Já em casos em que há proximidade — seja política, profissional ou até pública —, o silêncio pode ser interpretado como descaso.
Na maioria dos cenários, a comoção respeitosa é o caminho mais seguro. Um comunicado breve, que expressa condolências e respeita a dor dos envolvidos, preserva a imagem e afasta interpretações negativas.
O que não fazer
- Jamais transformar tragédia em palanque político.
- Evitar comparações com outras mortes ou casos.
- Não usar ironias ou adjetivos que possam acirrar ânimos.
Reputação é ativo de longo prazo
Cuidar da reputação não é apenas apagar incêndios quando eles surgem, mas construir uma imagem sólida que resista às tempestades. A forma como empresários, políticos e personalidades reagem a momentos delicados define como serão lembrados: como pessoas sensíveis e responsáveis ou como oportunistas e insensíveis.
No fim, a lição é simples: em tempos de crise, menos é mais — desde que esse “menos” carregue humanidade, clareza e estratégia.
Ana Barros é jornalista especialista há mais de 15 anos em assessoria de imprensa

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