A China, principal compradora da carne bovina brasileira, voltou a emitir um alerta sanitário ao Brasil após detectar resíduos acima do limite permitido de Fluazuron — substância usada no combate a carrapatos e parasitas — em lotes exportados recentemente. O caso reacendeu o temor de novos embargos e provocou mobilização entre frigoríficos e produtores, que reforçam a necessidade de uso responsável de medicamentos veterinários.
O aviso foi repassado pela Minerva Foods, uma das maiores exportadoras de proteína animal do país, por meio do programa Laço de Confiança, que mantém comunicação direta com os pecuaristas. “A alfândega chinesa já sinalizou ao governo brasileiro que intensificará a vigilância. Novas violações poderão comprometer as relações comerciais entre os dois países”, informou a empresa.
Alerta máximo no campo
A preocupação é imediata: a China responde por mais de 60% das exportações de carne bovina do Brasil, e qualquer suspensão de compras teria impacto direto sobre os preços e abates. O alerta revive o episódio de março de 2025, quando três frigoríficos brasileiros foram suspensos por causa do mesmo problema. Apesar de pontual, a crise causou queda na arroba e prejuízos expressivos ao setor.
Mesmo empresas não atingidas na época, como o Rio Maria, com unidades no Pará e em Goiás, reforçaram aos fornecedores a importância de respeitar o período de carência — intervalo mínimo entre a aplicação do medicamento e o abate do animal.
Problema global: Uruguai também foi afetado
A situação não é exclusiva do Brasil. O Uruguai também enfrentou embargos recentes após a China rejeitar e destruir lotes de carne contaminados com Fluazuron. O governo uruguaio reagiu com medidas mais rígidas e punições severas aos produtores que descumprirem as normas sanitárias. “O cuidado começa no campo. É fundamental respeitar o período de carência antes do abate”, destacou Marcelo Rodríguez, diretor do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do país.
O que está em jogo
O período de carência é o tempo necessário para o organismo do animal eliminar totalmente os resíduos de medicamentos. O uso incorreto ou o abate precoce pode deixar traços da substância na carne, comprometendo a segurança alimentar e a imagem do Brasil no comércio internacional.
Especialistas alertam que novas restrições da China poderiam causar prejuízos bilionários, afetando toda a cadeia — de pequenos produtores a grandes frigoríficos. O setor movimenta mais de US$ 10 bilhões por ano apenas com as exportações de carne bovina.
Responsabilidade compartilhada
Até o momento, o Ministério da Agricultura não se pronunciou oficialmente sobre o novo alerta, e a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) monitora o caso junto às autoridades chinesas.
A mensagem que ecoa entre produtores e indústrias é clara: um erro individual pode comprometer a credibilidade de todo o país. A carne brasileira, construída com décadas de investimento e tecnologia, depende de rigor sanitário e responsabilidade no manejo para manter a confiança do mercado internacional.
