
O tenente-coronel Mauro Cid negou, em depoimento à Polícia Federal (PF), qualquer tentativa de fugir do Brasil ou de envolvimento com um suposto pedido de passaporte português em seu nome. O depoimento ocorreu na última sexta-feira (7), em Brasília, no âmbito de uma operação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que inicialmente previa sua prisão preventiva — mas acabou sendo convertida em medida de busca e apreensão.
Segundo a PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR), havia indícios de que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro poderia estar articulando uma evasão do país, com apoio do ex-ministro do Turismo Gilson Machado. Uma ligação feita por Machado ao Consulado de Portugal em Recife, em maio, é o principal elemento da investigação. A suspeita é de que ele tenha tentado viabilizar um passaporte europeu em nome de Cid para facilitar sua fuga e comprometer o andamento da Ação Penal 2.688, que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado envolvendo Bolsonaro e seus aliados.
Em sua oitiva, que durou cerca de três horas, Mauro Cid, acompanhado do advogado Cezar Bittencourt, negou qualquer pedido de passaporte feito a terceiros e disse não manter contato com Machado desde o fim do governo Bolsonaro, em 2022. Segundo ele, um pedido de passaporte exige comparecimento presencial, registro fotográfico e coleta de dados biométricos — etapas que jamais foram cumpridas por ele.
Gilson Machado, por sua vez, confirmou à imprensa que entrou em contato com o consulado português, mas afirmou que o assunto era relacionado ao passaporte de seu pai. “Nunca tratei de nada a respeito de Mauro Cid”, disse ao jornal O Globo.
A defesa do militar também confirmou que ele solicitou cidadania portuguesa em janeiro de 2023, poucos dias após os ataques de 8 de janeiro, justificando a decisão com o fato de sua esposa e filhas já possuírem a nacionalidade. No entanto, garantem que Mauro Cid nunca chegou a emitir um passaporte estrangeiro.
Outro ponto abordado durante o depoimento foram as mensagens atribuídas a Cid e divulgadas pela Revista Veja, nas quais ele supostamente revelaria trechos de sua delação premiada por meio de um perfil no Instagram. O tenente-coronel negou ser o autor do conteúdo e afirmou se tratar de uma “montagem”, além de negar o uso do perfil citado.
Mesmo sob as novas suspeitas, o acordo de delação premiada firmado por Cid permanece válido. Ele segue obrigado a cumprir as medidas cautelares impostas pelo STF, como uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e proibição do uso de redes sociais. A colaboração depende do cumprimento rigoroso dessas condições, incluindo a obrigação de dizer a verdade sempre que convocado pelas autoridades.
A PF e a PGR também investigam o deslocamento recente de familiares de Cid aos Estados Unidos como possível indicativo de fuga. A esposa, uma filha e os pais do militar embarcaram para os EUA no fim de maio, com retorno previsto para 20 de junho. Outra filha viajou posteriormente para uma competição de hipismo. Cid apresentou as passagens de retorno e afirmou que a viagem foi para comemorar o aniversário de uma sobrinha e a formatura de um parente em Orlando.
Após o depoimento, Mauro Cid deixou a sede da PF por volta das 13h30 e foi conduzido para casa por seus advogados. A defesa reitera que ele não tem intenção de deixar o país e que continua colaborando com a Justiça.