
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) elevou expressivamente os gastos com publicidade digital em 2025, apostando nas redes sociais como principal vitrine do governo. De janeiro até agora, o Planalto já gastou R$ 69 milhões com campanhas na internet — um aumento de 110% em relação ao mesmo período de 2024, quando haviam sido aplicados R$ 33 milhões.
A guinada ocorre em um momento delicado para o governo Lula, que tenta reverter a perda de popularidade provocada por crises sucessivas — como os problemas no PIX, o aumento do custo de vida e o escândalo do INSS. Segundo reportagem do G1, a estratégia busca atingir o público fora do núcleo petista, com foco em influenciadores de médio porte que dialogam com eleitores de centro e até de centro-direita.
Em 2024, sob comando do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), apenas 13,7% da verba publicitária da Secom era destinada ao meio digital. Já com Sidônio Palmeira, marqueteiro histórico do PT que assumiu em janeiro, o percentual saltou para 25% do orçamento total. A prioridade anterior — rádio regional e televisão — perdeu espaço para o marketing nas redes.
Outra aposta do governo foi o cinema nacional, que teve alta de 93% nos investimentos, passando de R$ 1,1 milhão para R$ 2,1 milhões, em meio à tentativa de capitalizar o sucesso de produções nacionais premiadas, como Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar.
Apesar do discurso de “modernização da comunicação pública”, o modelo adotado pela Secom tem levantado questionamentos. Os influenciadores não são contratados diretamente pelo governo, mas selecionados por quatro agências publicitárias terceirizadas, que decidem os nomes e repassam a lista ao Palácio do Planalto para aprovação. Cada influenciador recebe em média R$ 20 mil por campanha — valores que, somados, representam uma estrutura milionária de propaganda indireta.
Figuras de grande alcance, como Felipe Neto, Virgínia Fonseca ou Whindersson Nunes, são consideradas “inviáveis” para o orçamento. Por isso, a preferência recai sobre influenciadores médios, com nichos mais segmentados e maior “penetração ideológica” em faixas do eleitorado não petista.
Em algumas ações, integrantes do próprio governo participam das campanhas, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já apareceu em vídeos respondendo perguntas de criadores de conteúdo ligados ao mercado financeiro. Outras peças têm foco em reforçar a militância petista, como postagens da influenciadora Laura Sabino, conhecida por sua militância de esquerda.
Entre as ações mais chamativas, o apresentador João Kleber, famoso pelo programa Teste de Fidelidade, participou de uma campanha no calçadão de Osasco (SP), perguntando a transeuntes se eles eram “fiéis ao Brasil”. A cena, vista como caricata por críticos, ilustra a tentativa do governo de popularizar sua imagem em meio a uma crescente onda de reprovação.