
Alessandra Nery, Sommelier e empresária na Syrha Vinhos e colunista na Entre Tintos e Brancos
Foi lá em 2018, talvez 2019, que um espumante me fez mudar de rumo — o Ovini Hop, da Giaretta. Um espumante com lúpulo. Sim, com lúpulo! A delicadeza da perlage, as notas cítricas, o final seco e elegante… mas foi o aroma intrigante que me capturou: lembrava cerveja, mas não com a mesma intensidade. E essa dúvida ficou.
Fui atrás da resposta. Me inscrevi num curso de cerveja na fábrica da Petra e lá conheci, pela primeira vez, o tal do lúpulo Cascade. Com seus aromas cítricos, florais, e aquele amargor marcante — era ele o elo entre o espumante e a cerveja que eu buscava entender. Mas ainda queria mais: de onde vinha esse aroma? O que o solo tem a ver com isso?
Foi assim que a curiosidade me trouxe até aqui: Portland, Oregon, a terra do Pinot Noir elegante, da cerveja artesanal em cada esquina — e claro, do solo vulcânico que sustenta tudo isso.
O terroir do noroeste americano é uma mistura viva de história geológica e cultura líquida. É nas encostas da Cordilheira Cascade que nascem tanto os vinhedos do Vale Willamette quanto os campos de lúpulo que carregam os sabores do vento e da terra. O lúpulo Cascade, cultivado nesse solo rico em minerais, traz consigo o frescor das montanhas e uma identidade que vai da cerveja ao espumante.
Hoje, olhando para trás, percebo que o que me trouxe até aqui foi mais do que o gosto pelo vinho ou pela cerveja. Foi o desejo de entender como o solo, o clima e a natureza moldam o que bebemos — e como uma taça pode contar a história de um lugar.










