
O que parecia mais um caso isolado de morte doméstica se transformou em uma das investigações mais chocantes do ano. Ana Paula Veloso Fernandes, 36 anos, estudante de Direito, é acusada de envenenar quatro pessoas entre janeiro e maio de 2025, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O delegado Halisson Ideião Leite, responsável pelo caso, descreve a suspeita como uma mulher “fria, manipuladora e sem remorso”, que demonstrava prazer em observar as consequências dos próprios atos.
Segundo o delegado, Ana Paula gostava de permanecer nos locais dos crimes, acompanhando a reação das vítimas e dos familiares. “Ela parece sentir prazer em manipular, enganar e estar no controle da situação. É uma pessoa consciente do que faz, mas incapaz de empatia”, afirmou Halisson Leite, do 1º Distrito Policial de Guarulhos.
A descoberta do primeiro crime
A primeira vítima foi o comerciante Marcelo Hari Fonseca, 51 anos, encontrado morto em Guarulhos. Ana Paula foi quem chamou a Polícia Militar, fingindo preocupação com o estado da vítima. Poucos meses depois, a enfermeira Maria Aparecida Rodrigues, 49 anos, foi encontrada morta e seminua em sua casa, no bairro Jardim Flórida, também em Guarulhos.
Enquanto a família aguardava a chegada da perícia, uma mulher desconhecida apareceu, dizendo se chamar “Carla” e ter conhecido Maria Aparecida por um aplicativo de relacionamentos. Ela observou a movimentação e depois desapareceu — era Ana Paula.
O veneno na feijoada
No dia 26 de abril, o aposentado Neil Corrêa da Silva, 65 anos, morreu em Duque de Caxias (RJ) após comer uma feijoada contaminada com chumbinho. O prato teria sido preparado com a ajuda da filha da vítima, Michele Paiva da Silva, que mantinha contato com Ana Paula desde os tempos de faculdade. Michele foi presa por participação no crime, que teria sido motivado por disputa de herança.
A quarta vítima, o jovem tunisiano Hayder Mhazres, 21 anos, morreu em São Paulo depois de ingerir comida envenenada. Ana Paula estava presente, acompanhou o rapaz na ambulância e chegou a registrar o óbito na delegacia, tentando se passar por uma testemunha solidária.
Perfil psicológico e frieza
Peritos descrevem Ana Paula como uma criminosa calculista, que age com plena consciência dos próprios atos. O psiquiatra forense Talvane de Moraes avalia que chamar a polícia após os crimes era parte de uma estratégia de manipulação. “Ela tenta mascarar a culpa e ganhar tempo, acreditando que o controle da narrativa a protegeria da punição”, explicou.
A Justiça manteve a prisão preventiva da estudante, e as investigações seguem para apurar se há outras vítimas. O caso, que chocou o país, ficou conhecido como o da “serial killer da feijoada” — uma trama de veneno, manipulação e frieza que expõe o lado mais sombrio da natureza humana.