
Uma doação de campanha registrada em 2022 reacendeu o debate sobre a influência de entidades privadas em políticas públicas sensíveis. O ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social, Onyx Lorenzoni, recebeu R$ 60 mil de Felipe Macedo Gomes, ex-presidente da Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB) — entidade que agora está no centro de uma investigação da Polícia Federal por envolvimento em descontos irregulares nas aposentadorias do INSS.
O caso foi exposto por meio de reportagens do portal Metrópoles e deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada em 2024. A operação apontou um esquema que pode ter movimentado cerca de R$ 2 bilhões em apenas um ano, por meio de fraudes em filiações de segurados e descontos automáticos indevidos nos benefícios de aposentados e pensionistas.
A conexão com a campanha
A doação de Gomes para Onyx foi registrada em setembro de 2022, durante a campanha ao governo do Rio Grande do Sul. À época, Lorenzoni chefiava o Ministério da Previdência — justamente o órgão que firmou um acordo de cooperação técnica com a ABCB, permitindo que ela realizasse descontos diretamente nos benefícios do INSS.
Embora não haja comprovação direta de envolvimento de Lorenzoni no esquema fraudulento, a Polícia Federal destacou a doação como ponto de atenção. Felipe Gomes liderava a entidade beneficiada pelo acordo durante o mandato de Onyx como ministro.
Fraudes milionárias e endereços falsos
Fundada em 2020, a ABCB começou a operar com recursos públicos a partir de 2022. De lá até junho de 2024, arrecadou R$ 143,2 milhões por meio de descontos em aposentadorias. A CGU (Controladoria-Geral da União) descobriu que o endereço da ABCB em Minas Gerais era, na verdade, de outra empresa — a Exponencial Distribuidora de Materiais Elétricos LTDA. Já a sede formal da entidade era um escritório de advocacia consultado por Gomes, aumentando as suspeitas de irregularidade.
Ligações com ex-funcionários do INSS
A PF também encontrou conexões entre a ABCB e o contador Mauro Palombo Concilio, que atuava para empresas ligadas à família de dois ex-integrantes do alto escalão do INSS: Virgílio Oliveira Filho, ex-procurador do instituto, e André Fidelis, ex-diretor. Ambos foram exonerados após o avanço das investigações.
O que diz Onyx?
Até o momento, nem Onyx Lorenzoni nem Felipe Gomes se manifestaram publicamente sobre as descobertas. A reportagem tentou contato com ambos, mas não obteve retorno. A investigação segue em curso e pode desdobrar-se em processos criminais, administrativos e eleitorais.