
Carla Bittencourt, Jornalista . Colunista de TV do @leodias e da @leodiastv . Boa comida no @ondeajantanoslevar
A saída de William Bonner da bancada do “Jornal Nacional” em 2025, um ano antes das eleições presidenciais, é mais do que a troca de um apresentador: é o fim de uma era e o início de um período de incertezas para a Globo e para a comunicação política no Brasil.
Bonner ocupou o posto mais cobiçado — e mais vigiado — do telejornalismo brasileiro por mais de duas décadas. Tornou-se, para o público, a face da credibilidade da Globo. Mas na entrevista recente ao “Altas Horas”, ele deixou claro o custo desse papel. O jornalista revelou que, nos últimos anos, passou a evitar sair de casa para shows, aeroportos ou qualquer local com multidão. O medo era de que uma interação mal interpretada com o público acabasse em alvoroço nas redes sociais. Ou seja, o peso de ser “William Bonner, âncora do ‘JN’” transformou até atos simples do cotidiano em potenciais crises.
Além da pressão pessoal, houve o fogo cruzado político. Desde 2018, o bolsonarismo elegeu Bonner como um dos inimigos preferenciais. Ele virou alvo de ataques diários, tanto de líderes quanto de militantes digitais. Estar na linha de frente contra a desinformação e sob ataques coordenados teve um impacto claro: o jornalista chegou ao limite do desgaste.
Sair antes da eleição de 2026 é uma jogada estratégica. Bonner evita atravessar mais um ciclo eleitoral, período em que o “Jornal Nacional” é naturalmente alvo de disputas narrativas, críticas e pressões de todos os lados. Ele se despede no momento em que ainda controla sua narrativa de saída, em vez de ser arrastado pelo turbilhão eleitoral. Para a Globo, abre-se um desafio enorme: manter a relevância do telejornal sem a figura que simbolizou estabilidade e credibilidade por tanto tempo.
O Brasil caminha para eleições imprevisíveis em 2026. Não se sabe quem liderará a disputa nem qual será o clima político. O que se sabe é que o “Jornal Nacional” seguirá como peça central no debate público — mas agora sem Bonner. Isso pode significar tanto uma oportunidade de renovação, com novos nomes e um tom diferente, quanto uma fragilidade diante de um público cada vez mais polarizado.
Bonner sai como ícone de uma era, mas também como retrato do desgaste acumulado pelo peso da função. Sua fala no “Altas Horas” escancara o lado humano dessa pressão: o âncora mais famoso do país aprendeu a evitar multidões por medo de virar alvo de mal-entendidos nas redes. Sua ausência em 2026 será sentida não apenas pela Globo, mas pelo próprio jogo político, que perde uma figura capaz de centralizar — e de certa forma equilibrar — a mediação da informação no horário nobre.
