
A morte de Angela Ro Ro, aos 75 anos, encerra a trajetória de uma das artistas mais marcantes e transgressoras da música brasileira. Se sua voz emocionava multidões, sua vida pessoal também esteve sob os holofotes, marcada por romances intensos, brigas públicas, reconciliações e a coragem de viver sua afetividade sem filtros.
Ro Ro foi uma das primeiras artistas do País a assumir abertamente a homossexualidade, ainda na década de 1970, gesto de enorme peso em uma sociedade conservadora e pouco receptiva à diversidade. Desde então, fez questão de não esconder seus amores, ainda que isso significasse se expor a polêmicas e julgamentos.
Amores que viraram notícia
O relacionamento com a cantora Zizi Possi, no fim dos anos 1970, tornou-se um marco. Além de ter revelado publicamente a bissexualidade da colega de profissão, Ro Ro enfrentou rumores de agressão – que sempre negou com veemência. Décadas depois, ainda expressava mágoa pelo silêncio da ex-parceira sobre o episódio.
Nos anos seguintes, vieram novos capítulos, como o namoro com a produtora cultural Verônica Menezes, 30 anos mais jovem. O término foi exposto pela própria artista nas redes sociais, acompanhado de relatos sobre preconceito etário. Pouco depois, a cantora viveu um breve romance virtual com a estudante Mayara Serra, 50 anos mais nova, que rapidamente se transformou em um conflito público.
Já em seus últimos anos, Angela preferiu manter algum mistério. Em 2024, revelou estar envolvida com uma fisioterapeuta cuja identidade nunca foi exposta, alegando que a parceira “não gostava de aparecer”. Poucos meses depois, confessou o fim da relação e a dor de conviver com alguém que dizia ter vergonha dela.
Coragem e vulnerabilidade
Se no palco Ro Ro cantava sobre amor, paixão e dor, fora dele vivia essas mesmas experiências sem disfarces. Foi justamente dessa mistura entre intensidade pessoal e criação artística que nasceu sua marca registrada: a visceralidade.
Para além dos escândalos, sua vida amorosa também expôs dilemas universais – o preconceito contra relacionamentos entre pessoas de idades diferentes, a dificuldade de lidar com amores não correspondidos e a coragem de se mostrar vulnerável em uma sociedade que cobra perfeição de seus ídolos.
Ao falar abertamente sobre suas relações, Angela deu voz a experiências que muitos escondiam. Transformou a vida em música e a música em confissão, deixando um legado que vai muito além das canções.
