
Uma nova pesquisa internacional acendeu um sinal de alerta para pais e responsáveis: permitir que crianças usem smartphones antes dos 13 anos pode afetar de forma significativa a saúde mental. O estudo, publicado nesta segunda-feira (21) no Journal of the Human Development and Capabilities, concluiu que quanto mais cedo o primeiro contato com o celular, pior tende a ser o bem-estar psicológico da criança — especialmente entre meninas.
A pesquisa foi baseada em autorrelatos de quase 2 milhões de participantes, distribuídos em 163 países, e detectou uma associação direta entre o uso precoce de smartphones e sintomas como pensamentos suicidas, dificuldades emocionais, distanciamento da realidade e baixa autoestima. Os dados sugerem que cada ano antes dos 13 em que a criança começa a usar o dispositivo contribui para a piora da saúde mental.
Segundo os pesquisadores, o impacto se deve principalmente ao maior acesso às redes sociais, interrupções do sono, exposição ao cyberbullying e deterioração das relações familiares. “Isso exige uma ação urgente que limite o acesso de crianças, bem como uma regulamentação mais rigorosa sobre o ambiente digital ao qual os jovens estão expostos”, afirmou Tara Thiagarajan, principal autora do estudo e cientista-chefe da Sapien Labs, organização sem fins lucrativos responsável pela pesquisa.
Apesar de estudos anteriores já terem ligado o uso excessivo de telas à ansiedade e depressão, esta pesquisa traz um diferencial: ela foca em sintomas menos explorados, como regulação emocional e autoestima. Ainda assim, os pesquisadores reconhecem limitações, como a impossibilidade de verificar os dados de forma independente ou identificar exatamente quais tipos de uso impactam mais as crianças.
Diante dos resultados, especialistas sugerem postergar ainda mais o acesso às redes sociais. A recomendação é que o uso de aplicativos sociais seja evitado até, pelo menos, os 16 anos. “Quando falo com pais, sugiro essa idade como limite. Há estudos sólidos do Reino Unido que mostram que usar redes sociais durante a puberdade reduz a satisfação com a vida no ano seguinte”, afirmou o psicólogo social Jonathan Haidt, autor do livro A Geração Ansiosa.
Para ajudar nessa tarefa, existem iniciativas como o grupo Wait Until 8th (“Espere até o oitavo ano”), que oferece compromissos coletivos para que pais adiem a entrega de smartphones aos filhos. A psicóloga clínica Melissa Greenberg, de Nova Jersey, afirma que o apoio entre pais é essencial. “Mesmo que as pessoas ainda não estejam falando sobre isso, elas podem se sentir aliviadas se você iniciar a conversa”, disse.
Outra recomendação é que famílias procurem escolas com políticas mais rígidas em relação ao uso de celulares e pressionem por regulamentações mais eficazes. Segundo os pesquisadores, a mudança não deve ser responsabilidade individual dos pais, mas uma solução coletiva e social.
Para quem já permitiu o uso de celulares antes dos 13 anos, a mensagem é clara: é possível voltar atrás. “Não tenha medo de mudar de rumo se sentir que o que você já fez não está funcionando”, aconselha Greenberg. Ela sugere controle parental, retirada de aplicativos e até a troca por celulares com funções limitadas, como os modelos “flip”.
A psicóloga recomenda aos pais que expliquem os motivos da mudança de forma empática: “Precisamos fazer algumas mudanças porque queremos ter certeza de que estamos fazendo o que há de mais saudável para vocês”, pode ser um bom começo.
Em um mundo digital cada vez mais presente na infância, os especialistas reforçam que a melhor defesa é a informação e o diálogo. Manter crianças longe dos smartphones não é apenas um desafio moderno, mas pode ser uma das decisões mais conscientes que os pais podem tomar em nome do bem-estar dos filhos.