
Eu tenho um sonho.
Um sonho de que nenhuma menina em Cuiabá seja forçada a desistir da escola porque lhe faltam condições básicas, porque tem que cuidar dos irmãos, ou porque alguém disse que “lugar de mulher não é na sala de aula”.
Eu sonho com o dia em que as mulheres da nossa cidade — negras, indígenas, periféricas, donas de casa, chefes de família, mães solo — não tenham medo de sair de casa, de pegar o ônibus sozinhas, de dizer “não” e de ocupar os espaços que sempre lhes foram negados.
Eu tenho um sonho de que nenhuma mulher precise morrer por ser mulher. Que as estatísticas da violência deixem de carregar nomes, histórias e rostos interrompidos.
Eu sonho com o tempo em que o cuidado, o trabalho doméstico e a maternidade sejam reconhecidos não como obrigações naturais, mas como responsabilidades sociais, compartilhadas por todos.
Eu sonho com uma cidade onde as mulheres lideram: nas escolas, nos negócios, nas comunidades, nos sindicatos, nos conselhos, na política.
Sonho com políticas públicas que enxerguem as mulheres por inteiro — que ouçam suas dores, suas urgências e seus sonhos. Com escolas que ensinem o respeito, com centros de saúde que acolham, com políticas de assistência que libertem, e não apenas sobrevivam.
Eu tenho um sonho de que os gabinetes políticos sejam instrumentos de transformação real. Que legislar seja um ato de amor às pessoas. E é por isso que sigo propondo, cobrando, fiscalizando e construindo projetos que dialoguem com a realidade de quem mais precisa.
Porque igualdade de gênero não é pauta só das mulheres — é uma causa de justiça, de dignidade, de democracia. E porque cada uma de nós, que fica pra trás por fome, violência ou falta de oportunidade, não são números em um relatório: são vidas reais.
Agosto começou. E com ele, o Agosto Lilás — mês de mobilização nacional pelo fim da violência contra a mulher. Uma campanha que fala de urgência, mas também de esperança. Porque quando denunciamos, informamos e acolhemos, salvamos vidas.
E é importante dizer: a violência contra a mulher não nasce do nada — ela é resultado direto de uma sociedade que naturaliza desigualdades, silencia vozes femininas e ignora os direitos de metade da população. Quando construímos uma sociedade desigual, o resultado é a violência.
Neste mês, e em todos os outros, reafirmo o meu compromisso com a equidade: com políticas públicas que ampliem oportunidades, garantam segurança, promovam saúde, eduquem para a liberdade e devolvam às mulheres o que sempre foi delas por direito — o protagonismo.
Eu tenho um sonho. E luto todos os dias para que ele vire realidade. Porque sonhar é o primeiro passo. Mas transformar é a nossa missão.
Katiuscia Manteli é jornalista e vereadora em Cuiabá (PSB)