A economia brasileira deixa de ganhar R$ 1,08 trilhão por ano devido a falhas no processo de aprendizado, segundo a pesquisa Perdidos na Transição, realizada pela multinacional de educação Pearson. O levantamento analisou oito economias – seis países, além dos estados da Califórnia e de Nova York – e concluiu que o Brasil apresenta a maior perda relativa ao PIB: cerca de 9% em 2024.
De acordo com o estudo, os mercados que mais deixam de lucrar, proporcionalmente ao PIB, são: Brasil (9,19%), Califórnia (4,86%), Canadá (4,76%), Estados Unidos (4,04%) e Nova York (3,92%).
Embora a tendência global aponte para perdas majoritariamente ligadas à automação, o Brasil enfrenta um gargalo particular: as transições de um emprego para outro. Esse intervalo representa o maior prejuízo econômico, estimado em R$ 701 bilhões anuais, equivalente a 65% do total perdido. Os trabalhadores brasileiros levam, em média, 42 semanas para se recolocar – mais que o dobro do observado no Canadá (18 semanas) e acima do Reino Unido (32 semanas). A Pearson estima que uma redução de 20% nesse período poderia gerar ganhos de R$ 140 bilhões anuais.
“Existe um descompasso entre o que a educação e os mercados entregam às empresas, versus aquilo que a economia demanda”, afirmou Cinthia Nespoli, CEO da Pearson no Brasil, ao CNN Money. Ela destaca ainda que um quinto dos jovens de 18 a 24 anos não trabalha nem estuda. Para a executiva, investimentos em educação e qualificação dessa população teriam impacto direto na produtividade e no crescimento econômico.
Outro ponto de atenção é a disrupção causada pela automação, que já gera perdas anuais de R$ 241 bilhões, correspondendo a 22% do total. Cerca de 32% dos empregos no Brasil estão sob alto risco de serem substituídos por tecnologias automatizadas, percentual maior que o registrado na Austrália (26%) e nos Estados Unidos (22%).
Segundo Nespoli, o país pode se antecipar aos impactos negativos observando experiências internacionais. “Estamos num momento de maturidade tecnológica que proporciona a oportunidade de se preparar melhor. O intuito é trazer mais investimento e interesse na requalificação, considerando que temos a vantagem de uma população mais jovem”, afirmou.
Apesar de representar parcela menor das perdas, a transição entre educação e mercado de trabalho também é considerada um desafio relevante. Segundo a Pearson, dificuldades nesse período podem comprometer os rendimentos dos indivíduos ao longo da vida.
O estudo aponta duas prioridades para formuladores de políticas públicas: enfrentar o desemprego estrutural, com programas de requalificação e reinserção mais rápida no mercado, e preparar o país desde já para o avanço da automação, evitando que ela se torne uma fonte ainda maior de disrupção econômica.
