
Um médico responsável técnico da COAPH – cooperativa contratada pela Prefeitura de Cuiabá para fornecer profissionais à rede de saúde – está sendo acusado de negligência médica após supostamente deixar de examinar uma jovem com sinais de abdômen agudo. A paciente apresentava quadro grave e precisava de cirurgia de urgência, mas foi liberada com a justificativa de que “não se pode internar todo mundo com dor na barriga”.
Um novo episódio de possível negligência médica em unidade pública de saúde reacende o alerta sobre a atuação da Cooperativa de Trabalho de Atendimento Pré e Hospitalar (COAPH), contratada pela Prefeitura de Cuiabá.
De acordo com a denúncia feita por familiares da paciente, o médico Yuri Bezerra, responsável técnico pela cooperativa, teria se recusado a realizar o devido encaminhamento hospitalar da jovem, que apresentava sintomas de infecção abdominal grave, compatíveis com um quadro de apendicite aguda.
“Ele disse que não podia internar todo mundo com dor na barriga, porque senão lotaria a UPA”, relatou um familiar.
A paciente foi dispensada da unidade mesmo após relatar dores intensas. Segundo a denúncia, o caso exigia encaminhamento imediato ao Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) para cirurgia de urgência, o que não aconteceu.
COAPH na mira da Justiça
A denúncia se soma a uma série de polêmicas envolvendo a COAPH, que já foi notificada diversas vezes por descumprimento contratual, como a falta de profissionais nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Cuiabá.
A cooperativa também foi investigada em 2022 no Ceará por envolvimento em um esquema de desvios de recursos no Samu. Gestores e médicos ligados à empresa foram alvos da operação que apurou fraudes e má gestão de dinheiro público.
Em Cuiabá, o contrato com a COAPH já está sendo analisado pela Delegacia de Crimes contra a Ordem Econômica (DECOR). Um dos pontos mais críticos é o modelo de pagamento por produtividade que, na prática, teria sido ignorado: os plantões estão sendo pagos integralmente, independentemente da produção médica, o que levanta suspeitas de fraude contratual e desperdício de recursos.
Relações familiares e histórico criminal
Yuri Bezerra é filho de Paulo Bezerra e primo de Carlinhos Bezerra, o homem que confessou o assassinato brutal da jovem Thaís Machado e encontra-se atualmente preso. O parentesco não tem relação direta com o caso médico, mas chama a atenção por envolver um núcleo familiar que esteve nas manchetes por crime de feminicídio com grande repercussão.
Saúde terceirizada em debate
O caso acende uma luz vermelha sobre o modelo de terceirização da saúde em Cuiabá. A falta de fiscalização, os apagões de atendimento e as denúncias recorrentes de má prática médica vêm gerando descontentamento entre pacientes, servidores e defensores do SUS.

A família da jovem já formalizou denúncia contra o médico e a COAPH, e cobra que o caso seja investigado com rigor. “Não é apenas uma falha, é uma vida colocada em risco por desatenção e negligência”, afirma um parente.
Outro lado
A reportagem questionou a Prefeitura de Cuiabá sobre o atendimento oferecido à paciente e medidas diante da denúncia. Em resposta, a assessoria encaminhou a seguinte nota:
A Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá informa que está adotando todas as providências administrativas cabíveis diante de uma denúncia relacionada a um atendimento na UPA Morada do Ouro.
Por determinação da secretária municipal de Saúde, será instaurada uma sindicância para apuração dos fatos e eventuais responsabilidades.
A Prefeitura de Cuiabá lamenta o falecimento da paciente e se solidariza com a família neste momento de dor, reafirmando seu compromisso com a transparência e a qualidade na prestação dos serviços de saúde.