
A família de Vitória Chaves da Silva, jovem que passou por múltiplos transplantes de coração e rim e teve sua história exposta de forma desrespeitosa nas redes sociais, ingressou com uma ação na Justiça de São Paulo solicitando indenização por danos morais e materiais. O pedido, que tramita no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), cobra das estudantes de medicina responsáveis pelo vídeo, da faculdade Inspirali e do Instituto do Coração (InCor) da USP, o pagamento de R$ 632 mil.
No processo, o advogado Eduardo Barbosa, que representa a mãe de Vitória, Claúdia Chaves, pede R$ 200 mil (equivalente a 200 salários mínimos) por danos morais e mais R$ 25 mil para custear o tratamento psicológico da família por pelo menos seis meses — valor que poderá ser prorrogado conforme a necessidade.
Além da indenização financeira, a defesa solicita que as estudantes Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano se retratem publicamente nas redes sociais, desculpando-se pela maneira como narraram o caso da jovem. O advogado classificou a atitude das alunas como “sadismo incompatível com a nobreza do exercício da medicina” e apontou falha institucional por parte do hospital e da faculdade que as enviou para o programa de estágio.
Relembre o caso
Em abril deste ano, um vídeo publicado no TikTok por Gabrielli e Thaís viralizou ao mostrar as estudantes debochando da história de Vitória, que na época havia falecido em fevereiro. No vídeo, as alunas comentavam que a jovem, que passou por três transplantes de coração e um de rim, estaria “achando que tem sete vidas”. Elas também insinuaram que a paciente teria responsabilidade pelos problemas pós-transplante por supostamente não seguir corretamente os protocolos médicos.
A publicação causou grande repercussão e revolta nas redes sociais. O conteúdo foi excluído no mesmo dia em que a denúncia formal foi registrada.
Investigações e posicionamentos
A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para apurar o caso, que foi registrado como injúria no 14º Distrito Policial de Pinheiros. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) também recebeu a denúncia e encaminhou para a Promotoria de Justiça de Direitos Humanos.
Em nota, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP esclareceu que as estudantes não possuem vínculo acadêmico com a instituição e que estavam na unidade apenas para um curso de extensão. A FMUSP repudiou a atitude, reforçando seu compromisso com a ética médica e informou que notificou as faculdades de origem das estudantes.
A faculdade Inspirali, responsável por encaminhar as alunas ao hospital, também é citada no processo.
A luta de Vitória
Vitória Chaves da Silva nasceu com uma grave cardiopatia congênita chamada Anomalia de Ebstein, condição rara que afeta a válvula cardíaca. Ao longo de sua vida, enfrentou quatro transplantes: três de coração (em 2005, 2016 e 2024) e um de rim (em 2022). A jovem faleceu em fevereiro deste ano, aos 26 anos, vítima de um choque séptico e insuficiência renal crônica.